Marcelo Damato https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br A paixão, o dinheiro e o poder que envolvem a Copa. E um pouquinho de bola... Sun, 15 Jul 2018 17:25:28 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Lula e Neymar consomem mais esforço do que devolvem ao país https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/10/lula-e-neymar-consomem-o-brasil/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/10/lula-e-neymar-consomem-o-brasil/#respond Tue, 10 Jul 2018 18:07:35 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/Torcedor-após-a-derrota-para-Bélgica-país-vive-dois-dramas-um-em-amarelo-e-outro-em-vermelho-Benjamin-Cremel-6.jul_.18-AFP-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=385 Em química, as reações entre os compostos podem ser divididas em exotérmicas, que liberam mais energia do que consomem, e endotérmicas, que agem ao contrário.

No trabalho e nas relações humanas, é parecido. Ao contratar um profissional, uma empresa ou entidade projeta que a riqueza gerada por seu trabalho supere o seu custo. Numa relação pessoal, seja um companheiro de cerveja, seja a pessoa com quem casamos, esperamos que o esforço gasto na relação seja recompensado com algo melhor.

Mas esse ganho não tem acontecido nem com Lula, nem com Neymar. Ambos consomem mais energia, esforço e emoções do que devolvem ao país. Neymar já encerrou sua campanha na Copa –com fracasso. Lula ainda está em campanha –para entrar na campanha eleitoral.

A premissa que move o apoio a ambos é a mesma: é a única pessoa que pode levar a um ápice, um objetivo essencial para a felicidade.

Para a esquerda que o apoia, Lula é o único capaz de, nas próximas eleições, derrotar “a direita”, esse grupo meio misterioso que iria de Temer a Bolsonaro, e que agiria com o objetivo de retirar direitos e dinheiro dos cidadãos, destruir a natureza e aumentar a exclusão.

Da mesma forma, Neymar era, para os seus fãs, o único craque capaz derrotar a Fifa, o VAR e todas as seleções e conquistar o sonhado hexa.

Para apoiá-los, é preciso quebrar a disciplina do Judiciário ou a disciplina da seleção. É preciso aceitar sem contestar o que fazem ou pedem, de um corte de cabelo lamen na véspera da estreia ou um frigobar na cela uma semana após a prisão.

Se você critica Neymar, independente de quantos elogios faça, então você é um cego, que não entende de futebol ou, pior, um invejoso que não aceita que um garoto pobre tenha sucesso –não importando quantos outros você admire– e até está torcendo contra. Ou seja, é um traidor da pátria.

Se você faz críticas a Lula, não importam os seus elogios, então você é um cego, que não enxerga a situação do país, ou, pior, um reacionário que não aceita que um ex-operário seja presidente do Brasil –ainda que já tenha votado nele. Ou seja, …

Para atender Lula em suas vontades, os seus fiéis se tornaram motivo de chacota nacional. Para atender Neymar em suas vontades, os seus fiéis, inclusive parte da comissão técnica, se tornaram motivo de chacota internacional.

Se as notícias sobre as recentes manobras no Judiciário fossem relativas a um político rival, os fãs de Lula ficariam revoltados. Já ficaram, com Aécio fazendo menos. Se as imagens, simulando, rolando e se contorcendo fosse de um jogador rival, os fãs de Neymar ficariam indignados. Já ficaram, com ingleses fazendo menos.

Pode-se dizer que Neymar é o Lula do futebol. E Lula é o Neymar da política.

A Bélgica e Bolsonaro agradecem.

 

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Neymar Ibrahimovic Júnior https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/08/neymar-ibrahimovic-junior/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/08/neymar-ibrahimovic-junior/#respond Sun, 08 Jul 2018 18:19:01 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/Neymar-e-Ibrahimovic-Emmanuel-Dunand-2jul.18-à-esq-e-Mark-Ralston-31.mar_.18-AFP-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=373 “Não se pode exigir que Neymar se comporte como a gente espera que ele faça.”

Essa frase nos martelou durante toda a Copa. Foi dita a todos os que cobravam que o astro brasileiro encenasse menos e pensasse mais no time. E se preocupasse mais com o efeito das suas ações sobre as crianças.

O significado era um, viraram dois. Neymar não apenas não é um modelo fora de campo, como não é o salvador do Brasil dentro dele. Hoje está mais para quem o frustra. Fora e dentro.

Quando surgiu, Neymar encheu os sonhos dos brasileiros. Sua habilidade em algumas coisas superior à Pelé nos fez acreditar em tempos de vitória, de fantasia.

Só que a diferença entre potencial e eficiência é a mesma que entre sonho e realidade. Nesta Copa em vez de resolver problemas, Neymar os criou. E já há quem tenha desistido dele, querendo-o fora da seleção.

Olhando para o Mundial, surgiu um possível novo caminho: a Suécia. Por três Copas, Ibrahimovic foi o Deus sueco, um Deus debochado e exigente. Sua seleção chegou uma vez às oitavas e ficou fora em 2010 e 2014. Sem ele, foi às quartas, três degraus acima.

Nos 12 anos de 2005 a 2016, Ibrahimovic foi o jogador do ano na Suécia 11 vezes. Ganhou o Puskas de gol mais belo do mundo e mais dezenas de prêmios individuais. Mas suas conquistas com times são mais modestas. Apenas um título europeu, uma Liga Europa.

Enquanto a seleção sueca viveu em torno do seu brilho, afundou. Fascinados com seu potencial, e temerosos da sua popularidade, nenhum técnico o barrou. Mas, quando saiu, ninguém lhe deu a mão para voltar.

À parte dos temperamentos falastrão e debochado do sueco e malandro e choramingas do brasileiro, Ibrahimovic e Neymar têm mais em comum do que parece.

Duvida? Faça um teste. Veja esses fatos e diga quais deles casam mais com a visão que você tem de cada um.

— Quando tinha um ano de carreira, recusou-se a fazer um teste num dos maiores clubes da Europa, pois se julgava bom demais para isso.

— Comparou-se a uma Ferrari.

— Sentou na capota de uma Ferrari.

— Machucou-se no confronto mais importante e foi se recuperar longe do clube, mesmo sendo o líder do time. Nem foi para a festa de um título.

— Jogou uma final importante já acertado secretamente com o adversário.

— Deixou o clube onde havia sido um sonho de infância jogar pela porta dos fundos. E sem se despedir da torcida.

— Dos clubes de onde saiu, não só não mostrou mais carinho pela torcida, como flertou com seus rivais.

— Chegou a um novo clube e quis mandar até no técnico.

— Organizou uma festa luxuosa com os companheiros, em que a estrela era ele mesmo.

Os dois primeiros são de Ibrahimovic. Os três últimos são de ambos.

Neymar está indo por esse caminho. Em 2010, o país pediu por ele. Em 2014, jogou em equipe até se machucar de verdade. Em 2018, foi o que todos viram. Mas, aos 26 anos, ainda tem uma chance.

A seleção já teve outros Neymares. Um conseguiu mudar. E também surgiu num período de seca. Até 1992, Romário criou tanta confusão que foi barrado. Voltou no fim de 1993, enquadrado. Convenceu-se de que poderia ser a estrela, mas não o dono do time. Submeteu-se, brilhou e ajudou o Brasil a conquistar o tetra. Desse modo, foi o melhor do mundo. Depois, consagrado, voltou para o Brasil e fez o que quis.

Neymar tem quatro anos para aprender o exemplo. Porque, além de tudo, o Brasil não é a Suécia.

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Nas oitavas, só Brasil venceu sem drama https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/03/nas-oitavas-so-brasil-venceu-sem-drama/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/03/nas-oitavas-so-brasil-venceu-sem-drama/#respond Tue, 03 Jul 2018 21:02:07 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/Neymar-comemora-gol-sobre-México-Fabrice-Coffini-X.jul_.18-AFP-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=316 Na foto das oitavas, a seleção brasileira é quem saiu mais bonita.

Foi a única que venceu sem drama. Fora os 30 minutos iniciais de domínio mexicano, foi soberana.

As demais seleções se classificaram com mais dificuldade.

França e Bélgica precisaram de viradas. A vitória belga foi no último lance.

Rússia, Croácia e Inglaterra disputaram prorrogações e só levaram nos pênaltis.

A Suécia venceu com um gol de sorte, de um rival contra o próprio gol.

O Uruguai, como o Brasil, também nunca esteve atrás no placar, e fez o gol da vitória antes dos 20 minutos do segundo tempo. Mas Portugal ainda teve uma chance de finalizar sem goleiro. E os uruguaios perderam seu artilheiro, Cavani, machucado.

No Brasil, o maior momento de drama foi o pisão sofrido por Neymar fora de campo, que consumiu quatro minutos de atendimento –e  milhões de posts nas redes sociais sobre se houve encenação ou não.

Agora, as quartas.

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Brasil se reencontra e faz melhor partida https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/27/brasil-se-reencontra-e-faz-melhor-partida/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/27/brasil-se-reencontra-e-faz-melhor-partida/#respond Wed, 27 Jun 2018 20:08:19 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Neymar-finaliza-contra-o-goleiro-Stojkovic-na-vitória-sobre-a-Sérvia-Antonio-Calanni-27.jun_.18-AP-150x150.jpeg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=241 Nos primeiros minutos, parecia que a tarde (aqui)/noite (lá) seria de sofrimento para jogadores e torcedores.

O lateral-esquerdo Marcelo, um dos destaques do time –e o único lateral da seleção original, após a perda de Daniel Alves– teve de ser substituído, por questões físicas. O aparente mistério sobre a causa piorou ainda mais os sentimentos.

Mas o fato é que Marcelo nem fez falta. Sem ele –não por causa disso–, o Brasil fez sua melhor partida neste Mundial.

Se na véspera, nas mesas-redondas, os jornalistas, quase em desespero, falavam em chance real de eliminação, a seleção jamais se desesperou e foi se impondo, passo a passo, sobre a Sérvia.

Se nos dois anteriores, jornalistas e torcedores cobravam mudanças no time, com a saída de Paulinho e Willian, foi o meia, que numa jogada típica, infiltrou-se e abriu o marcador. A partir dali, a Sérvia seria outra, com bem menos confiança.

No início do segundo tempo, a Sérvia, que precisava marcar 2 gols em 45min e não mais 1 em 90min, até fez uma certa pressão. Aí Tite trocou Paulinho por Fernandinho, o Brasil voltou a dominar o meio-campo.

Logo depois, Thiago Silva, que teve grande atuação, fez o segundo gol, num escanteio. O lance foi em parte coletivo. Miranda, na primeira trave, se enganchou com o centroavante Mitrovic, que protegia o setor, e os dois caíram. Thiago viu o espaço, se antecipou e finalizou.

Neymar teve uma atuação mais discreta do que nos primeiros jogos, mas fundamental. Mais aberto na ponta, tocou menos na bola e a segurou muito menos. com isso, todos os outros jogadores evoluíram.

Neymar não esteve num grande dia. Menos inspirado, foi disciplinado, focado e contido. Sofreu menos faltas e não reclamou nenhuma vez. Não fez firula e jogou em equipe.

E principalmente não chorou nem reclamou. E ninguém do Brasil reclamou.

Ainda não são o Neymar e o Brasil que se espera, mas ambos, enfim, parecem estar no caminho certo.

 

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Fantasma de 2014 ronda a seleção https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/25/fantasma-de-2014-ronda-a-selecao/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/25/fantasma-de-2014-ronda-a-selecao/#respond Tue, 26 Jun 2018 00:49:25 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Neymar-chora-após-vitória-sobre-Costa-Rica-Cao-Can-22.jun_.18-Reuters-Copia-150x150.jpeg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=176 A seleção brasileira corre o risco de tropeçar mais uma vez em suas emoções, como aconteceu em 2014. Naquela Copa, a incapacidade de administrar a pressão de jogar em casa e a de jogar abaixo da expectativa levou a equipe a travar na semifinal, levando de 7 a 1 da Alemanha, o maior vexame da história da seleção. Desta vez, o país é outro, como também são a comissão técnica e a maioria dos jogadores. Mas muitos dos jogadores mais importantes de 2014 estão nesta disputa.

E probema parece vir justamente dali.

As cenas de choro de Neymar no final da partida contra a Costa Rica e o desabafo de Thiago Silva na saída do campo indicam que o controle das emoções é novamente um problema.

Desde a sexta-feira, os dois eventos continuam repercutindo também no noticiário internacional e suscitaram críticas de ex-jogadores de ao menos cinco países.

No caso de Neymar, a questão não foi só que ele caiu em lágrimas após uma vitória num jogo de primeira fase –se a pressão em jogos iniciais já o deixa nesse estado, como será quando o bicho pegar pra valer? O ponto talvez mais importante é que ele não aguentou até chegar ao vestiário, onde pudesse extravasar com privacidade.

As cenas do camisa 10 brasileiro com os nervos em frangalhos são uma informação útil para cada próximo adversário. E é certo é que eles vão explorar isso. Faz parte do futebol.

O caso de Thiago Silva foi ainda mais grave, e não só porque não foi a primeira vez. Na última Copa, em 2014, já capitão, o zagueiro não só chorou na decisão por pênaltis contra o Chile, como implorou para não ter de bater. Pior, também naquela oportunidade, contou tudo isso na entrevista pós-jogo.

Nesta Copa, a cena se repetiu. Ele contou na entrevista que ficou “muito triste” por ter sido xingado por Neymar por devolver uma bola ao adversário. O zagueiro ainda quis se valorizar dizendo que tinha compreendido a situação, mas o efeito disso foi zero, naturalmente.

Já é suficientemente desapontador saber que um jogador que está em sua terceira Copa do Mundo, perto de fazer 34 anos, se sinta “muito triste” porque foi xingado por um colega de equipe no calor da partida. Mas é muito pior perceber que ele não é capaz de entender que DR de jogador se faz dentro do vestiário ou na concentração. E não em público.

O objetivo da seleção é ganhar a Copa. Expor os intestinos das relações entre os jogadores certamente não ajuda nisso.

Pode-se esperar quase tudo do capitão de uma equipe top mundial de esporte profissional, menos que ele coloque um divã na saída do campo e coloque um jornalista no papel de psicanalista.

A questão é sobre autocontrole e não em ser ou não ser machão ou insensível. Isso nada tem a ver com gênero. Alguém acha que Marta, a Pelé do futebol feminino, escolhia as palavras com as companheiras enquanto buscava uma medalha olímpica? E a dupla Paula e Hortência se xingou pouco até conseguir o ouro no Mundial de basquete?

Para quem não se convence disso, basta comparar com as outras seleções desta Copa e com as seleções brasileiras das outras Copas, em especial as vencedoras.

Neste Mundial, Messi está numa draga muito pior que Neymar. Mas, se chorou, foi no vestiário. Salah teve seu sonho transformado em pesadelo. E não se viu nenhum descontrole, dentro ou fora de campo.

Nas história das seleções brasileiras, basta lembrar de Dunga, capitão do tetra e de 1998. Se cada palavrão dele em campo fosse um tijolo, em cada estádio haveria uma muralha. E nenhum jogador foi chorar para os jornalistas. No vestiário é que as coisas se resolviam –não é assim em qualquer trabalho?

Quando a seleção é campeã, todas as ofensas são perdoadas. Quando uma seleção grande como o Brasil perde, fica aquele gosto horrível de poder ter feito mais. Se os jogadores não aprenderem a relevar o que é secundário, o caminho para o hexa será mais árduo.

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E o VAR tirou o Oscar de Neymar https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/22/e-o-var-tirou-o-oscar-de-neymar/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/22/e-o-var-tirou-o-oscar-de-neymar/#respond Fri, 22 Jun 2018 14:30:53 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Neymar-se-atira-e-pede-pênalti-Michael-Sonn-22.jun18-Associated-Press-150x150.jpeg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=152 É preciso reconhecer. Se há algo em que o fenomenal Neymar é realmente excepcional, é decididamente na simulação.

Desde os primeiros anos no Santos, Neymar é um mestre na arte de iludir os olhos. Sua percepção espaço-temporal é quase sobrenatural. Sua coordenação motora ultrafina para adaptar o seu próprio movimento ao do seu adversário é algo quase divino.

Ou demoníaco. Porque simulação não faz parte do jogo.  A trapaça vai contra o próprio espírito do futebol.

Se sua habilidade com a bola encanta os amantes do esporte no mundo inteiro, sua insistência em se atirar irrita não só os adversários e os árbitros, e também os torcedores. Esse misto de encanto e raiva, em mãos hábeis, vira meme, vira piada.

Nesta Copa, surgiram a cabra do Neymar, o cachorro do Neymar, o pebolim do Neymar, a avó do Neymar e até o irmão preso do Neymar. Todos se atirando rolando no chão, sem que ninguém os toque.

Se Neymar será algum dia o melhor jogador do mundo, não se sabe. O que é certo é que ele é o maior cai-cai de todos os tempos.

Mas seus dias como o maior ator dos gramados estão contados. Neymar pode enganar os olhos humanos, mas não as lentes “varianas”.

O VAR acabou com uma das duas genialidades de Neymar. Agora ele vai ter de se contentar em apenas jogar futebol.

Vai ser difícil. Mas confiamos que ele vai conseguir.

(e não é que ele já fez um gol?)

 

Em tempo: é óbvio que não foi pênalti (uma mãozinha daquelas não segura nem a mim), como não tinha sido pênalti no Gabriel Jesus. No Miranda, foi falta, mas nesta Copa não estão marcando esse tipo de lance.

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Brasil descobre em Tite um novo Telê, mas nem pensa em outro Sarriá https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/17/brasil-descobre-em-tite-um-novo-tele-mas-nem-pensa-em-outro-sarria/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/17/brasil-descobre-em-tite-um-novo-tele-mas-nem-pensa-em-outro-sarria/#respond Sun, 17 Jun 2018 11:04:38 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Tite-técnico-do-Brasil-no-amistoso-contra-a-Inglaterra-Darren-Staples-14.nov_.17-Reuters-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=61 Nove Copas depois, o Brasil pode ter encontrado um novo Telê Santana. Desde 1982, a seleção teve técnicos respeitados, desprezados e até odiados pela torcida. Mas nunca mais teve um tão admirado, que fizesse a equipe jogar como a torcida espera, pelo chão, com beleza e para a frente. Nem que tocasse tanto os corações brasileiros.

Tite, como Telê, prefere os jogadores mais técnicos. A formação do quadrado Coutinho-William-Gabriel-Neymar mostra essa convergência de visão com a torcida. Esse setor já começa a ser comparado a Cerezo-Falcão-Sócrates-Zico, o meio-campo de 1982. Aquele time encantou tanto que a dor da derrota para a Itália sobrevive até hoje, com um quê de nostalgia.

Mas a aprovação não depende tanto dos jogadores. A seleção de 2006 tinha bem mais elenco. Os astros eram o melhor do mundo (Ronaldinho), o que viria a ser (Kaká), o mais bem pago (Adriano) e o maior astro do planeta (Ronaldo). Tinha ainda um monte de bons coadjuvantes a começar pelos laterais Cafu e Roberto Carlos. Além disso era a campeã mundial, e vinha de três finais seguidas. Ainda assim, Parreira, mesmo campeão de 1994, não era tão querido.

A qualidade do atual elenco é grande, mas não chega a tanto. E a torcida parece mais conectada ao treinador .

A questão é outra, de postura. Como o Telê de 1982, Tite pegou a seleção em baixa, a torcida desconfiada, conquistou a confiança dos jogadores e a reergueu. Mostrou equilíbrio entre bom humor e seriedade, entre doçura e disciplina.

Telê foi um visionário. Numa época em que o futebol era mais vistoso, mas muito mais desleal, Telê liderava a campanha contra os pontapés. Defendia que o time que abdicasse da violência e se focasse só em jogar seria mais vitorioso. E pedia cartões vermelhos aos adversários em quase todo jogo. Sua reputação o fez ser querido por décadas, mesmo na imensa seca pessoal, quando era tachado de pé frio.

Tite vai além de defender o futebol bonito (e nem sempre foi assim: quem não lembra da época do “empatite”?). O que conquistou os torcedores, além das vitórias, foi sua preocupação em exibir coerência, em explicar que todas as decisões estão dentro de uma abrangente visão do futebol e da vida. Ética é sua mensagem mais forte –às vezes cansativa, como nos comerciais de um banco.

Sua defesa das chamadas “coisas certas” já o levou até a ser cogitado para a Presidência da República. É um devaneio, sem dúvida, mas que mostra aonde chegou.

Ao longo dos últimos 50 anos, esse grau de aprovação tem sido raro.

Pela visão popular, desde 1970, aconteceu mais ou menos assim.

Em 1970, Zagallo era um quase novato, que entrou no lugar do polêmico e querido João Saldanha. Foi inteligente e pôs o Brasil para jogar com todos os craques. No timaço do tri, foi um bom coadjuvante.

Em 1974, Zagallo era um retranqueiro mal-humorado. O Brasil foi quarto levando olé da Holanda.

Em 1978, Cláudio Coutinho era um tecnocrata, um teórico que queria mudar a cultura do futebol brasileiro. O Brasil, jogando feio, foi “campeão moral”, em terceiro, após a tramoia argentina.

Em 1986, Telê estava azedo demais e criou confusão. O Brasil era como um café requentado e parou nas quartas, nas mãos do goleiro francês Bats.

Em 1990, Lazaroni era um ET que criou um esquema e falava uma língua que ninguém entendia. O Brasil parou nas oitavas, nos pés do argentino Cannigia.

Em 1994, Parreira era outro retranqueiro, montou um time de pebolim em cima de Dunga e Romário, ganhou o tetra e se salvou. Parcialmente.

Em 1998, Zagallo era um adorável velhinho, mas que não comandava. O Brasil parou na final, na cabeça de Zidane e na crise de Ronaldo.

Em 2002, Felipão era um vitorioso tosco e truculento, que teve sorte com a lesão de seu jogador favorito, montou um time ofensivo e se redimiu com o penta.

Em 2006, Parreira permitiu a seleção mais zoneada da história. O Brasil galático, imbatível no papel, parou nas quartas, no toque de Henry –e nos meiões de Roberto Carlos.

Em 2010, Dunga era um sargentão bem-intencionado, mas raivoso e incompreendido, que brigou com todo mundo e até chutou o banco de reservas. O Brasil parou nas quartas, para a Holanda e seus próprios nervos.

Em 2014, Felipão começou com moral, mas estava superado, não segurou o caos de uma Copa em casa e nos delegou os 7 a 1, na semifinal.

Como Tite vai entrar para a história?

A torcida tem saudades de Telê, mas não de Sarriá.

 

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