Marcelo Damato https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br A paixão, o dinheiro e o poder que envolvem a Copa. E um pouquinho de bola... Sun, 15 Jul 2018 17:25:28 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Gol da Suíça expõe queda do poder da CBF dentro da Fifa https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/18/gol-da-suica-expoe-queda-do-poder-da-cbf-dentro-da-fifa/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/18/gol-da-suica-expoe-queda-do-poder-da-cbf-dentro-da-fifa/#respond Mon, 18 Jun 2018 12:01:14 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Zuber-faz-o-gol-da-Suíça-contra-o-Brasil-Marko-Djurica-17.jun_.18-Reuters-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=77 A polêmica surgida em relação ao lance que gerou o gol da Suíça deixou claro um ponto: o Brasil nunca esteve tão órfão dentro da Fifa, ao menos nos últimos 60 anos.

Desde que Ricardo Teixeira deixou a presidência da CBF, em 2012, o poder brasileiro dentro da entidade-mãe começou a cair. Depois da operação do FBI, em 27 de maio de 2015, que prendeu o ex-presidente José Maria Marin e deixou o então presidente Marco Polo Del Nero acorrentado ao Brasil, a queda se acentuou.

O recente episódio envolvendo o atual presidente, o coronel PM Antonio Nunes, na escolha da sede da Copa de 2026, rebaixou a CBF a uma entidade da periferia da bola na hierarquia política de Zurique. Para alguns virou quase um pária.

E quando acontece um problema como o deste domingo, o que fazer? Como pode reclamar a pessoa que quebrou um acordo e na última hora votou não só contra os interesses dos seus pares americanos, mas contra os da própria direção da Fifa? Como pode ser levada a sério uma pessoa que, ao justificar seu voto, parecia uma criança acuada? Como um dirigente que está sendo escondido por seus próprios subordinados na Rússia pode encaminhar uma reclamação?

E não há como pensar que isso não tem importância. Numa entidade com forte caráter político como a Fifa, todo naco de poder é importante. Como em qualquer atividade humana, a política tem peso no esporte.

Não é só por vaidade, diárias e passagens que as federações nacionais disputam todos os cargos em todas as comissões. Ricardo Teixeira nunca gostou muito de futebol, mas sempre ocupou um posto na comissão de arbitragem e por algum tempo foi seu vice-presidente.

O futebol é obviamente jogado e decidido pelos times e pelos jogadores. Menosprezar o papel de craques como Pelé, Garrincha, Romário e Ronaldo –só para falar de alguns brasileiros– é impossível. Quando não há situações-limite, só isso importa. Mas, com alguma frequência, há decisões difíceis. Os árbitros, em geral, tentam acertar sempre, mas não ignoram quais são as equipes politicamente mais fortes.

Não foi por coincidência que o Brasil ganhou as três primeiras Copas após a chegada à CBD (hoje CBF) de João Havelange, que em seguida viraria presidente da Fifa por 24 anos. Havelange não fez gol, mas não desgrudava dos poderosos, até se tornar o maior de todos –de todos os tempos.

De 1958 a 2014, foram muitos os episódios em que o Brasil foi beneficiado nos jogos e fora dele –Garrincha, o craque da Copa de 1962, só disputou a final graças a uma manobra na comissão disciplinar; em 1970, o local de uma semifinal foi mudado para atender a pedido do Brasil. Em sentido contrário, foram bem menos comuns.

A partir de 1989, esse poder se reforçou. Teixeira, que chegou à CBF como um ET, logo mostrou-se um disciplinado pupilo de Havelange. Colocava a si mesmo e a aliados brasileiros em todas as comissões que conseguia. Em 2002, em pelo menos dois jogos, os erros do árbitro beneficiaram a seleção. E não se está atribuindo as conquistas a isso, claro.

Depois de Teixeira, porém, a história mudou. É verdade que a ação do FBI, 41 dias após a posse de Marco Polo Del Nero, cortou a cadeia de passagem de poder do Brasil dentro da Fifa. De uma tacada só, Teixeira, Marin e Del Nero ficaram afastados da entidade.

Mas não há como negar que o comportamento de Marin e Del Nero foi a maior causa dessa queda. Na presidência de Marin, era Del Nero que tinha cargos na Fifa. Era mais conhecido pela idade e curvas das namoradas que levava do que pelo trabalho na entidade. O posterior sumiço dele, pelo medo de ser preso no exterior, prejudicou a CBF ainda mais.

E, para coroar, Del Nero inventou Nunes como seu sucessor temporário, apenas para impedir que um vice rebelde tomasse posse em caso de seu afastamento. E Nunes logo se revelou uma fonte quase infinita de constrangimento. E só tem piorado.

Agora, surge mais uma consequência previsível dessas decisões desastradas.

No código de honra dos jogadores, está não esperar por ajuda da arbitragem, mas ter a confiança de não serem prejudicados. Para que os brasileiros se preocupem apenas em jogar bola, eles precisam acreditar que suas costas estão protegidas.

Pela primeira vez em muitas Copas, isso pode não estar acontecendo.

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Na primeira Copa após operação do FBI, a moda na Fifa é… dinheiro https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/13/na-primeira-copa-apos-operacao-do-fbi-a-moda-na-fifa-e-dinheiro/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/13/na-primeira-copa-apos-operacao-do-fbi-a-moda-na-fifa-e-dinheiro/#respond Wed, 13 Jun 2018 22:52:10 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Gianni-Infantino-Martin-Ruggiero-Associated-Press-12.abr_.2018-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=12 Mal faz três anos que agentes do FBI, com respaldo da Polícia Judiciaria suíça, entraram no hotel Baur au Lac, em Zurique, e fizeram a maior prisão da história do futebol mundial. Naquele 27 de maio de 2015, sete dirigentes foram presos, incluindo José Maria Marin, que havia deixado a Presidência da CBF 41 dias antes.
 
O presidente da Fifa, Joseph Blatter, um baixote sem pescoço que lembra os duendes do banco Gringotts, da saga de Harry Potter, não foi preso, mas ficou enfraquecido e por fim afastado do cargo. Seu principal rival e ex-aliado, o então “boss” da Uefa Michel Platini, com seus cabelos despenteados e ternos amarrotados, caiu no mesmo dia, cerca de quatro meses depois da ação do FBI. Ao todo, mais de 20 pessoas foram condenadas nos EUA e mais uma dezena foi afastada da Fifa.
 
Quem assumiria o poder seria o secretário-geral da Uefa, Gianni Infantino, suíço, apesar do nome italiano. Tinha 45 anos, entre 7 e 20 anos a menos na posse do que seus três antecessores, que revezaram o cetro desde 1961. Foi braço-direito de Platini e recebeu seu apoio até não precisar mais dele.
 
Com ternos impecáveis, perfil quase esguio e cabeça raspada, Infantino chegou prometendo o de sempre: modernidade, honestidade, democracia e transparência –além de quadruplicar os repasses para as federações nacionais. Por isso, enquanto no COI, que passava por crise bem menor, a ordem foi reduzir custos em obras olímpicas, na Fifa, o gigantismo não só foi mantido, como turbinado.
 
Mal assumiu, Infantino já anunciou que queria uma Copa com 48 clubes. O formato, que deve começar em 2026, na Copa da América do Norte, sobe o número de jogos de 64 para 80 (+25%). Logo estádios, sedes, voos, diárias, refeições subirão quase na mesma taxa. São mais
gastos e… mais receitas para distribuir.
 
Infantino não ficou só nisso. Propôs uma Liga Mundial de Nações e reformatou o Mundial de Clubes. Diz que um misterioso fundo liderado pelo banco japonês SoftBank pagaria US$ 25 bilhões por dez anos de contrato. Só isso quase triplicaria a receita da Fifa –de US$ 5,7 bilhões no atual quadriênio– que já é o triplo de quatro ciclos atrás.
 
Seu estilo centralizador e seu apetite por dinheiro está assustando até mesmo antigos aliados. Alguns relembram a origem da sua família, o Sul da Itália, lar de três máfias.
 
Na última reunião da Fifa, a resistência interna freou seus planos. Mas as cobranças de suas promessas políticas não param. E no ano que vem precisará disputar a reeleição. Se vencer, pode em tese, ficar indefinidamente. Se Infantino deixar o cargo com a mesma idade de Havelange, 83, vai ficar até 2054. Com os mesmos métodos de hoje.
 
Por isso, nesta Copa, aproveite o futebol. A Fifa não mudou de estilo, só de estilista.

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