Marcelo Damato https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br A paixão, o dinheiro e o poder que envolvem a Copa. E um pouquinho de bola... Sun, 15 Jul 2018 17:25:28 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Argentinos ‘bagunçam’ a Copa da Fifa https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/27/argentinos-baguncam-a-copa-da-fifa/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/27/argentinos-baguncam-a-copa-da-fifa/#respond Wed, 27 Jun 2018 07:18:55 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Torcedora-na-Praça-san-Martín-em-Buenos-Aires-assiste-à-derrota-da-Argentina-para-a-Croácia-Eithan-Abramovich-21.jun_.18-AFP-150x150.jpeg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=206 Começou a Copa do Mundo dos argentinos. Se a Copa da Fifa é um símbolo do século do século 21, tecnológica, organizada e alegre, a Copa dos argentinos é diferente. A torcida, os ídolos e o time parecem funcionar no modo anos 90, mais caótica, menos eficiente e muito mais apaixonada.

E agora, após passar pela Nigéria, o espírito argentino esquentou “de vez” –pelo menos até sábado.

Maradona mostra tapete com sua imagem no estádio antes do jogo Argentina x Nigéria (Paul Ellis – 26.jun.18/AFP)

Na arquibancada, o símbolo desse misto de paixão e bagunça –com uma pitada de farsa– é o ex-jogador Diego Maradona. No primeiro jogo, fumou um charuto, o que é proibido. No segundo, urrou contra o próprio time.

No terceiro e decisivo contra a Croácia, roubou o show. Usou dois relógios de pulso –outra vez– e uma camiseta com seu tradicional patrocinador de uniforme. E gritou, urrou, chorou, sorriu, xingou, mostrou o dedo e até cochilou durante o jogo.

Recebeu uma homenagem de torcedores, pousou para fotos de centenas de fãs, bateu boca feio com alguns e até passou mal no final, tendo de receber tratamento médico.

Oficialmente, Maradona está na Copa a convite da Fifa, que lhe paga, segundo jornalistas ingleses, 10 mil dólares por dia. E cumpriu seu papel. Enlouqueceu seus fãs, que tudo lhe perdoam, e irritou seus haters.

Mascherano com o supercílio aberto e camisa manchada de sangue (Giuseppe Cacace- 26.jun.18/AFP)

Dentro de campo, o espírito não está em Messi, Dybala ou Aguero, seus maiores talentos, mas no volante Mascherano. “El Jefito”, aos 34 anos, já está em fim de carreira. Não atua mais no Barcelona, foi exilado para a China.

Na seleção, porém, ele é o capitão. Com o respaldo da torcida, Masche pode dizer e fazer quase o que quiser.

Nesse jogo, até o experiente árbitro turco Cuneyt Çakir, teve de se dobrar. Juiz da final do Mundial de Clubes de 2012 –aquela–, de uma semifinal da Copa do Mundo de 2014 -–a outra– e da Liga dos Campeões de 2015, não foi páreo para o ex-jogador do Barcelona.

No segundo tempo, Mascherano levou um golpe no supercílio esquerdo, que passou a sangrar e até manchou sua camiseta. A regra o obrigava a sair e se tratar. Mas o jogo estava tenso, a Argentina empatava, e El Jefito ficou até o fim. E Çakir se fingiu de morto.

O técnico argentino Jorge Sampaoli, já sem blazer, grita desperado durante a derrota para a Croácia (Petr David Josek – 21.jun.18/AP)

Num ambiente assim, a hierarquia não vale muito. Após o segundo jogo e diante da ameaça de eliminação, os jogadores, liderados por Mascherano, simplesmente atropelaram o técnico Jorge Sampaoli e decidiram a equipe do terceiro jogo.

O treinador, que chegara com moral por seu trabalho com a seleção do Chile, perdeu-se no comando da Argentina no Mundial. A cada jogo, mudou de time, de estilo e, sintomaticamente, até o estilo da roupa. Na derrota para a Croácia, seu desespero era evidente. Como num enredo de filme B, após o segundo gol do rival, tirou o blazer e ficou de camiseta. No terceiro jogo, já era um fantasma. Ao apito final, foi para o vestiário sem falar com ninguém.

Torcedor após derrota para a Croacia no estádio em Nizhny Novgorod Copa 2018 (Dimitar Dilkoff – 21.jun.18/AFP)

Nesse caldeirão de emoções, a torcida também tem um papel central. Em São Petersburgo, os torcedores não ligaram para a ameaça de eliminação e ficavam em centenas na porta do hotel da seleção, cantando e incentivando.

Todos os dias centenas de torcedores fazem grandes desfiles pela cidade mostrando amor pela seleção. Agora, com a classificação, a manifestações devem crescer.

Torcedores argentinos vivem e dormem em carros na praia de Copacabana dirante a Copa do Mundo de 2014 (Eduardo Anizelli – Jun.14/Folhapress)

E isso não é novo. Os argentinos repetiram o que haviam feito no Brasil, em 2014. Chegaram às dezenas de milhares, por todo tipo de transporte, especialmente em carros, motorhomes e ônibus, muitos dele caindo aos pedaços.  Ocuparam todas as sedes da Copa, especialmente São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde a seleção argentina ficou concentrada. Dormiam em carros, barracas e ônibus, tanto emm bolsões como simplesmente na rua. A grande maioria dos torcedores veio sem ingresso, só para sentir a Copa de perto.

Alguns torcedores vieram de carona, desde a Patagônia.

No Brasil, a viagem de volta foi apenas na noite após a final. Desta vez, pode ser a qualquer momento, a partir de domingo.

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Seleção da Argentina enfrenta hoje o verdadeiro País do Futebol https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/16/selecao-da-argentina-enfrenta-hoje-o-verdadeiro-pais-do-futebol/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/16/selecao-da-argentina-enfrenta-hoje-o-verdadeiro-pais-do-futebol/#respond Sat, 16 Jun 2018 10:20:57 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Seleção-da-Islândia-se-classifica-para-a-Copa-Haraldur-Gudjonsson-9.out_.17-AFP-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=52 Imagine que você more num desses quatro bairros da zona norte de São Paulo mais pertos do centro: Casa Verde, Santana, Vila Guilherme e
Vila Maria. E que um dia com amigos decidam criar uma liga de futebol.

A população total dessa região, bem menor do que a do distrito do Grajaú, na zona Sul, se colocaria entre 70° e 75° lugar no ranking das cidades brasileiras, perto de Blumenau (SC), Franca (SP), Vitória da Conquista (BA) e Pelotas (RS), cerca de 340 mil pessoas, 10% da população do Uruguai.

Mas em vez de morar mesmo em São Paulo, pense que todos os habitantes dessa região morem num espaço bem maior. Em vez de 38 km², são 115 mil km², não apenas maior que a cidade de São Paulo, mas de fato 15 vezes o tamanho de toda a Região Metropolitana, onde há 39 municípios e vivem mais de 21 milhões de pessoas.

Com os moradores tão espalhados, e num lugar quase sem pobreza, não haveria grandes problemas de trânsito e segurança –nem greves de caminhoneiros. Os desafios seriam outros.

Nesse lugar faz frio. A temperatura oscila entre 9 e 14 graus Celsius. No verão. No inverno, mais comprido, ela chega a -2°C e raramente sobe acima de +3°C. Em janeiro, o sol nasce às 11h e se põe às 16h. Os ventos são normalmente fortes. E o futebol é jogado ao ar livre.

Imagine que essa área não fique num continente, mas numa ilha, fazendo que qualquer conexão com outros territórios, pessoas e times precise se dar pelo ar, principalmente, ou pela água, com essas condições de clima já mencionadas.

E para animar, de vez em quando um dos 18 vulcões ativos do país (130 no total) resolve dar o ar da graça, e suas cinzas fecham o único aeroporto internacional, praticamente isolando o lugar do mundo.

Com essa população –a capital tem 110 mil habitantes-, esse clima e esse isolamento, seria impossível criar uma liga de futebol profissional. Logo os jogadores que não conseguissem atuar em outros países seriam amadores ou semiamadores. E a comissão técnica também. O melhor técnico poderia ser, por exemplo, dentista. Todo mundo treinaria em meio período ou depois do trabalho.

E, finalmente, se um dia, depois da pelada, entre uma cerveja e outra (gelada, naturalmente), alguém propusesse:

“Ei pessoal, e se a gente montasse um time para a Copa do Mundo?”

Por isso, dependendo do resultado do jogo de logo mais, chame os amigos e tente marcar um jogo:

Associación de Fútbol Argentino
Viamonte, 1366, Buenos Aires, Argentina
selecciones@afa.org.ar

Os hermanos podem até topar, já que vocês não são cidadãos do verdadeiro País do Futebol, a Islândia.

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