Marcelo Damato https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br A paixão, o dinheiro e o poder que envolvem a Copa. E um pouquinho de bola... Sun, 15 Jul 2018 17:25:28 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Por um futebol com mais gols https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/15/por-um-futebol-com-mais-gols/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/15/por-um-futebol-com-mais-gols/#respond Sun, 15 Jul 2018 17:25:28 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/Mbappé-comemora-o-quarto-gol-da-França-na-final-da-Copa-Martin-Meissner-AP-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=416 A Copa acabou. E inegavelmente a sensação geral é de que foi uma Copa especial, com ótimos jogos, boas equipes, muita emoção. Até no Brasil, esse é o sentimento, apesar da eliminação precoce da seleção e da polêmica com Neymar.

Mas aí fica a questão: por que desta vez a sensação é boa? Em várias das outras Copas, isso não aconteceu. Em algumas, se defendeu até a sua extinção e a troca por um Mundial de Clubes.

Neste Mundial, o clima (físico e emocional) foi bom, o VAR deu um tempero, até na final, houve craques do começo ao fim, tudo ajudou. Mas os maiores heróis foram os gols e a competitividade.

Na Rússia, não houve aumento de gols em relação aos 171 de 2014, no Brasil. Mas houve mais gols valiosos. Entre 5×0 e 7×1 não faz grande diferença. Entre 0x0 e 1×0 (ou 1×1) faz.

Este foi o Mundial com menos 0x0 desde 1954. Até a competição na Suíça (a quinta edição), jamais tinha acontecido. Eles estrearam em 1958 (num Brasil x Inglaterra) e desde então nunca houve menos de dois por competição. De 2006 a 2014, houve sete em cada; neste ano, apenas um.

Além disso, desde 1974 não acontecia um Mundial sem 0x0 após a Primeira Fase.

O mata-mata foi ainda mais especial. Quebrou o recorde de gols e pela primeira vez na história da Copa um mata-mata de terminou sem nenhuma goleada. Desta vez apenas quatro jogos terminaram com diferença de dois gols. Dos cerca de 1.700 minutos, considerando os jogos, os tempos de acréscimo e as cinco prorrogações, em apenas 115 a diferença era maior do que um gol.

A velocidade do jogo também deu mais emoção. A briga pela posse deu espaço a um estilo mais NBA, tanto da França, como da Croácia e da Bélgica: habilidade e força física como aliadas, não mais como inimigas.

Mas ter saído gols para os dois lados em tantos jogos tornou a festa ainda maior, dentro e forma dos estádios. E ter havido tantas viradas –duas apenas em França 4×3 Argentina—também ajudou.

Quanto mais tempo as duas equipes sonham com a vitória, melhor o jogo.

Por isso, a Fifa deveria pensar uma forma de aumentar essa festa. Mudar as regras para que as médias de gols subam um pouco, o suficiente não só para extinguir o 0x0 mas para reduzir muito os 1×0, 2×0 etc, para dar às duas torcidas o gosto de celebrar ao menos um gol, de ter uma memória boa a cada jogo.

Além disso, com mais gols, a influência dos erros de arbitragem, seria menor. A experiência do VAR mostrou que há um certo limiar de erros abaixo do qual não dá para passar.

Assim, a festa seria ainda maior.

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Este blog para por aqui. Foi um prazer escrever neste espaço. Até a próxima.

 

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Mata-mata da Copa mostra força inédita das seleções https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/13/mata-mata-da-copa-mostra-forca-inedita-das-selecoes/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/13/mata-mata-da-copa-mostra-forca-inedita-das-selecoes/#respond Fri, 13 Jul 2018 11:53:16 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/Aguero-contra-a-França-fez-gol-que-quebrou-recorde-de-52-anos-Benjamin-Cremel-02.jul_.18-AFP-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=410 A Copa do Mundo da Rússia mostrou uma competitividade inédita nas seleções que alcançaram o mata-mata.

Pela primeira vez nas 11 Copas em que houve oitavas-de-final em confronto direto, nenhum jogo das três fases antes da final terminou com mais de dois gols de diferença. Ou seja, não houve nenhuma goleada.

Nas outras vezes, o número de goleadas nas 14 partidas desse período, oscilou entre um e quatro.

Em 34 e 38, a Copa foi disputada por 16 times em sistema eliminatório. As oitavas só voltariam –e de vez– em 1986, quando o Mundial tinha 24 seleções (que passariam para 32 em 1998).

O que torna esse resultado mais surpreendente é que neste mata-mata saíram mais gols do que a média. Foram 39, média foi de 2,79 gol/jogo, contra 33, na média dos oito anteriores –as Copas dos anos 30 foram excluídas deste cálculo porque naquela época as defesas eram muito mais fracas.

Desses oito mata-matas, só em 1994, as redes foram balançadas mais vezes: 44. E mesmo assim, houve goleadas em todas.

Um dos retratos do equilíbrio é que os gols foram bem distribuídos entre os jogos. Em 14 partidas, houve apenas dois 1×0 e nenhum 0x0.

O número de partidas que foi para a prorrogação também foi superior à média das outras dez Copas: 5 contra 4,4.

Mas, mesmo nas Copas em que mais jogos foram para a prorrogação, 1990 (oito vezes) e 2014 (seis), houve muitos 0x0 neles: quatro em cada disputa.

Outro dado que mostra o equilíbrio dos jogos é que, desde 1994, não havia tantos times eliminados depois de marcar dois ou mais gols. Isso aconteceu três vezes.

E fazia 52 anos que uma equipe, no caso a Argentina, não era mandada para casa depois de anotar três gols no tempo normal. A última infelizarda havia sido a Coréia do Norte, que levou de 5 a 3 de Portugal nas quartas-de-final da Copa da Inglaterra, em 1966.

 

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Final da Copa pode ter árbitro holandês https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/11/final-da-copa-pode-ter-arbitro-holandes/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/11/final-da-copa-pode-ter-arbitro-holandes/#respond Wed, 11 Jul 2018 17:36:43 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/O-holandês-Björn-Kuipers-durante-o-jogo-Brasil-x-Costa-Rica-Gabriel-Bouys-22.jun18-AFP-e1531330060323-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=402 Pela tradição da Fifa, o holandês Björn Kuipers é o favorito para apitar a final da Copa, no domingo. Kuipers, que está em seu segundo Mundial, tem sido prestigiado nas escalas desde o segundo dia e tem sido bem avaliado.

Na Rússia, apenas dois árbitros foram escalados quatro vezes, Kuipers e Nestor Pitana (ARG), que está descartado para final porque dirigiu a partida de abertura. (atualização: quebrando sua própria tradição, a Fifa escalou Pitana. É apenas a segunda vez em 21 Copas que um árbitro apita abertura e final)

Os dois têm um temperamento parecido, são calmos e sorriem durante quase toda a partida. O temperamento, aliás, é parecido com o do diretor de arbitragem da Fifa, o italiano Pierluigi Collina, que dirigiu a final da Copa do Mundo de 2002.

Kuipers é um dos principais árbitros europeus. Já dirigiu final da Liga dos Campeões de 2014 (em 63 decisões, só houve uma repetição de escala, em 1968 e 1970). Dirigiu duas finais de Liga Europa (2013 e 2018), sendo o segundo a atingir tal feito desde que as finais são em jogo único e o primeiro no século. Sua primeira final de uma competição da Fifa ocorreu no ano passado, com a decisão do Mundial sub-20, vencido pela Inglaterra.

Em Copas, sempre foi escalado para jogos importantes. Nos seus sete jogos, incluindo três da Copa no Brasil, havia ao menos uma seleção campeã mundial em campo. No terceiro dia da Copa de 2014, dirigiu o jogo de abertura do Grupo D, o “grupo da morte”, opondo as campeãs Itália e Inglaterra. A partida era considerada delicada também pelo calor previsto para a hora do jogo.

Na Rússia, Kuiper dirigiu Uruguai 1×0 Egito, na primeira rodada, Brasil 2×0 Costa Rica, na segunda, Rússia 1×1 Espanha, nas oitavas, e Inglaterra 2×0 Suécia, nas quartas.

No jogo do Brasil, foi o primeiro árbitro da Copa a cancelar a marcação de um pênaltin–sobre Neymar– depois de consultar o VAR.

Depois dele, um dos árbitros com mais chances é Sandro Meira Ricci, do Brasil. O brasileiro é um dos que já atuou três vezes e trabalhou nas quartas-de-final. O sérvio Milorad Mazic, que apitou a decisão da última Liga dos Campeões, completa a escala da terceira fase junto com Pitana.

Das últimas sete Copas, em quatro o árbitro da final também apitou nas quartas-de-final. Em nenhuma, quem apitou uma semifinal chegou ao último dia. Na França-98, o escalado nem havia trabalhado no mata-mata.

A última vez que um brasileiro apitou uma decisão foi em 1986, com o Romualdo Arpi Filho. Quatro anos antes, Arnaldo Cesar Coelho, hoje comentarista da Globo, foi o primeiro brasileiro a alcançar o jogo máximo do futebol mundial.

 

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Lula e Neymar consomem mais esforço do que devolvem ao país https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/10/lula-e-neymar-consomem-o-brasil/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/10/lula-e-neymar-consomem-o-brasil/#respond Tue, 10 Jul 2018 18:07:35 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/Torcedor-após-a-derrota-para-Bélgica-país-vive-dois-dramas-um-em-amarelo-e-outro-em-vermelho-Benjamin-Cremel-6.jul_.18-AFP-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=385 Em química, as reações entre os compostos podem ser divididas em exotérmicas, que liberam mais energia do que consomem, e endotérmicas, que agem ao contrário.

No trabalho e nas relações humanas, é parecido. Ao contratar um profissional, uma empresa ou entidade projeta que a riqueza gerada por seu trabalho supere o seu custo. Numa relação pessoal, seja um companheiro de cerveja, seja a pessoa com quem casamos, esperamos que o esforço gasto na relação seja recompensado com algo melhor.

Mas esse ganho não tem acontecido nem com Lula, nem com Neymar. Ambos consomem mais energia, esforço e emoções do que devolvem ao país. Neymar já encerrou sua campanha na Copa –com fracasso. Lula ainda está em campanha –para entrar na campanha eleitoral.

A premissa que move o apoio a ambos é a mesma: é a única pessoa que pode levar a um ápice, um objetivo essencial para a felicidade.

Para a esquerda que o apoia, Lula é o único capaz de, nas próximas eleições, derrotar “a direita”, esse grupo meio misterioso que iria de Temer a Bolsonaro, e que agiria com o objetivo de retirar direitos e dinheiro dos cidadãos, destruir a natureza e aumentar a exclusão.

Da mesma forma, Neymar era, para os seus fãs, o único craque capaz derrotar a Fifa, o VAR e todas as seleções e conquistar o sonhado hexa.

Para apoiá-los, é preciso quebrar a disciplina do Judiciário ou a disciplina da seleção. É preciso aceitar sem contestar o que fazem ou pedem, de um corte de cabelo lamen na véspera da estreia ou um frigobar na cela uma semana após a prisão.

Se você critica Neymar, independente de quantos elogios faça, então você é um cego, que não entende de futebol ou, pior, um invejoso que não aceita que um garoto pobre tenha sucesso –não importando quantos outros você admire– e até está torcendo contra. Ou seja, é um traidor da pátria.

Se você faz críticas a Lula, não importam os seus elogios, então você é um cego, que não enxerga a situação do país, ou, pior, um reacionário que não aceita que um ex-operário seja presidente do Brasil –ainda que já tenha votado nele. Ou seja, …

Para atender Lula em suas vontades, os seus fiéis se tornaram motivo de chacota nacional. Para atender Neymar em suas vontades, os seus fiéis, inclusive parte da comissão técnica, se tornaram motivo de chacota internacional.

Se as notícias sobre as recentes manobras no Judiciário fossem relativas a um político rival, os fãs de Lula ficariam revoltados. Já ficaram, com Aécio fazendo menos. Se as imagens, simulando, rolando e se contorcendo fosse de um jogador rival, os fãs de Neymar ficariam indignados. Já ficaram, com ingleses fazendo menos.

Pode-se dizer que Neymar é o Lula do futebol. E Lula é o Neymar da política.

A Bélgica e Bolsonaro agradecem.

 

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Neymar Ibrahimovic Júnior https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/08/neymar-ibrahimovic-junior/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/08/neymar-ibrahimovic-junior/#respond Sun, 08 Jul 2018 18:19:01 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/Neymar-e-Ibrahimovic-Emmanuel-Dunand-2jul.18-à-esq-e-Mark-Ralston-31.mar_.18-AFP-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=373 “Não se pode exigir que Neymar se comporte como a gente espera que ele faça.”

Essa frase nos martelou durante toda a Copa. Foi dita a todos os que cobravam que o astro brasileiro encenasse menos e pensasse mais no time. E se preocupasse mais com o efeito das suas ações sobre as crianças.

O significado era um, viraram dois. Neymar não apenas não é um modelo fora de campo, como não é o salvador do Brasil dentro dele. Hoje está mais para quem o frustra. Fora e dentro.

Quando surgiu, Neymar encheu os sonhos dos brasileiros. Sua habilidade em algumas coisas superior à Pelé nos fez acreditar em tempos de vitória, de fantasia.

Só que a diferença entre potencial e eficiência é a mesma que entre sonho e realidade. Nesta Copa em vez de resolver problemas, Neymar os criou. E já há quem tenha desistido dele, querendo-o fora da seleção.

Olhando para o Mundial, surgiu um possível novo caminho: a Suécia. Por três Copas, Ibrahimovic foi o Deus sueco, um Deus debochado e exigente. Sua seleção chegou uma vez às oitavas e ficou fora em 2010 e 2014. Sem ele, foi às quartas, três degraus acima.

Nos 12 anos de 2005 a 2016, Ibrahimovic foi o jogador do ano na Suécia 11 vezes. Ganhou o Puskas de gol mais belo do mundo e mais dezenas de prêmios individuais. Mas suas conquistas com times são mais modestas. Apenas um título europeu, uma Liga Europa.

Enquanto a seleção sueca viveu em torno do seu brilho, afundou. Fascinados com seu potencial, e temerosos da sua popularidade, nenhum técnico o barrou. Mas, quando saiu, ninguém lhe deu a mão para voltar.

À parte dos temperamentos falastrão e debochado do sueco e malandro e choramingas do brasileiro, Ibrahimovic e Neymar têm mais em comum do que parece.

Duvida? Faça um teste. Veja esses fatos e diga quais deles casam mais com a visão que você tem de cada um.

— Quando tinha um ano de carreira, recusou-se a fazer um teste num dos maiores clubes da Europa, pois se julgava bom demais para isso.

— Comparou-se a uma Ferrari.

— Sentou na capota de uma Ferrari.

— Machucou-se no confronto mais importante e foi se recuperar longe do clube, mesmo sendo o líder do time. Nem foi para a festa de um título.

— Jogou uma final importante já acertado secretamente com o adversário.

— Deixou o clube onde havia sido um sonho de infância jogar pela porta dos fundos. E sem se despedir da torcida.

— Dos clubes de onde saiu, não só não mostrou mais carinho pela torcida, como flertou com seus rivais.

— Chegou a um novo clube e quis mandar até no técnico.

— Organizou uma festa luxuosa com os companheiros, em que a estrela era ele mesmo.

Os dois primeiros são de Ibrahimovic. Os três últimos são de ambos.

Neymar está indo por esse caminho. Em 2010, o país pediu por ele. Em 2014, jogou em equipe até se machucar de verdade. Em 2018, foi o que todos viram. Mas, aos 26 anos, ainda tem uma chance.

A seleção já teve outros Neymares. Um conseguiu mudar. E também surgiu num período de seca. Até 1992, Romário criou tanta confusão que foi barrado. Voltou no fim de 1993, enquadrado. Convenceu-se de que poderia ser a estrela, mas não o dono do time. Submeteu-se, brilhou e ajudou o Brasil a conquistar o tetra. Desse modo, foi o melhor do mundo. Depois, consagrado, voltou para o Brasil e fez o que quis.

Neymar tem quatro anos para aprender o exemplo. Porque, além de tudo, o Brasil não é a Suécia.

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Fica, Tite!… Será? https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/07/fica-tite-sera/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/07/fica-tite-sera/#respond Sat, 07 Jul 2018 16:20:39 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/O-técnico-Tite-que-dirigiu-a-seleção-na-Copa-da-Rússia-Joe-Klamar-17.jun_.18-AFP-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=363 Fica, Tite. Fica, Tite. Fica, Tite. Fica, Tite! Fica, Tite!!

Desde a eliminação da seleção, essa frase domina a pauta do futebol do Brasil. Está nos jornais, TVs e redes sociais. Daqui a pouco, vai virar uma palavra só: Ficatite.

O argumento básico do discurso é que o treinador fez um bom trabalho e merece continuar.

Mas a maioria vai além: a manutenção de Tite seria um avanço da CBF, do futebol brasileiro e até do Brasil. Manter o técnico mostraria um amadurecimento nacional. Romperia com a tradição de, após um fracasso, recomeçar tudo do zero.

E, quando as coisas começam a ficar tão emocionais, a luz amarela acende.

Por que Tite virou unanimidade? A seleção jogou bem, mas será só isso? Não. É uma identificação pessoal.

Além de seu conhecimento em futebol, os brasileiros enxergam em Tite várias qualidades que acham que faltam ao país.

Ética – Numa comunidade abalada pelos escândalos de corrupção, honestidade e ética viraram obsessão.

Confiança/otimismo – Quem olha para o futuro do Brasil e vê um sol no horizonte?

Comprometimento – O que somos senão o país dos feriados e do jeitinho?

Sinceridade – Os brasileiros adoram quem explode, chora, rola no gramado etc. E Tite vai além, até confessa erros.

Equilíbrio – Diante de 200 milhões, para quem tudo é maravilhoso ou trágico, Tite é uma voz de serenidade.

E não importa se Tite é ou não assim. Importa como ele é visto.

Conta também a favor de Tite a falta de opções.

Renato Gaúcho está em alta no Grêmio, mas é quase seu oposto: Malandro, intuitivo e vaidoso, seria o nome perfeito se buscassem um novo Felipão. Mas, depois dos 7 a 1, o técnico do penta ficou meio queimado.

Fábio Carille tem um ótimo início de carreira. Mas a questão é justamente essa: está no começo. E, para ter outro Tite, é melhor manter o original.

Cuca foi campeão no Palmeiras, mas depois criou muita confusão. E esse negócio de nomear comentarista de Copa para ser técnico não tem dado certo. Falcão e Dunga são exemplos.

Mano Menezes é parecido no jeito de trabalhar. Gosta de ciência, de time equilibrado. Mas sua primeira passagem na seleção não foi boa. E não gera empatia como Tite.

E um estrangeiro? Basta ver o que disseram jogadores, jornalistas e torcedores na Copa para perceber que conviver com um estrangeiro sem uma experiência anterior no país será um grande desafio. E, dos que têm, nenhum convenceu.

Mas, realmente, nada disso importa.

A não ser que não queira, Tite vai continuar. Basta ver quase todas as nomeações anteriores dos técnicos da seleção. A tradição da CBF é responder a um anseio da sociedade –e principalmente da imprensa esportiva.

A seleção viveu na balada em 2006? Contrata-se Dunga para pôr ordem na casa. Os brasileiros estavam inseguros com Mano Menezes? Então se contrata não um, mas dois campeões mundiais para dirigir a seleção na Copa do Brasil. Faltou coragem ao Brasil em 2014? Chama-se Dunga de novo. Dunga era criticado em 2016 por falta de conhecimento e títulos? É a vez de Tite.

Mas, se Tite ficar, não poderá ser esse da Copa da Rússia. O técnico cometeu erros importantes. O principal foi não ter controlado Neymar.
A seleção gastou uma enorme energia para criar as melhores condições para o camisa 10 brilhar –e ele não brilhou. E com isso se descuidou de outros aspectos.

Tite não foi capaz de ver que sem Casemiro, o Brasil precisa de reforço na marcação. Não viu que era Casemiro e não os midiáticos Neymar e Thiago Silva quem desequilibrava a favor da seleção.

E, contra a Bélgica, Tite foi surpreendido pelo mesmo esquema que seu pupilo Carille usou neste ano no Corinthians.

Já ouvi que “não se pode cobrar perfeição de Tite”, como se dissessem que, como Deus não pode assumir o cargo, Tite é a melhor opção.

Já que nem Deus, nem melhores técnicos podem vir, então iremos de Tite. Fez um bom trabalho, é inegável. É a decisão correta.

Mas achar que isso é um grande passo para o hexa –e principalmente para o Brasil– é um tremendo autoengano.

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A cinco jogos do fim da Copa, Europa já venceu https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/06/a-cinco-jogos-do-fim-da-copa-europa-ja-venceu/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/06/a-cinco-jogos-do-fim-da-copa-europa-ja-venceu/#respond Fri, 06 Jul 2018 21:06:19 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/Coutinho-corre-atrás-de-Hazard-na-queda-do-último-sul-americano-da-Copa-Luis-Acosta-6.jul_.18-AFP-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=353 O futebol europeu vai conquistar pela quarta vez seguida uma Copa. Com a eliminação de Uruguai e Brasil no primeiro dias das quartas-de-final, não há mais seleções de fora do continente ainda na disputa. Da Europa há seis.

Amanhã, os jogos serão Rússia x Croácia e Suécia x Inglaterra. França e Bélgica já estão nas semifinais.

Com esse título, as seleções esticam o recorde estabelecido em 2014. Até essa sequência, nunca um continente havia vencido mais de duas vezes seguidas – a Itália venceu em 1934 e 1938 e o Brasil, em 1958 e 1962.

O domínio europeu coincide justamente com um maior revezamento dos continentes. No início das Copas, a cada três Mundiais, dois eram na Europa e um na América do Sul. Depois passou a haver um revezamento entre Europa e América. A partir de 2002, outros continentes entraram na disputa, e, em 2010 e 2014, duas Copas seguidas foram disputadas fora da Europa pela primeira vez –isso vai se repetir em 2022 (Qatar) e 2026 (América do Norte).

Em relação às Copas da Europa, pela sexta vez em 11 só haverá equipes desse continente, repetindo 1934, 1954, 1966, 1982 e 2006.

Das quatro vezes que um sul-americano chegou às semifinais, passou para a final em três. O Brasil foi semifinalista em 1938, campeão em 1958 e vice em 1998. Em mais uma Copa em ano terminando em 8, caiu nas quartas. A Argentina foi vice em 1990.

Em 1974, na Alemanha, não houve semifinal.

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Paulinho negocia volta à China https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/06/paulinho-negocia-volta-a-china/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/06/paulinho-negocia-volta-a-china/#respond Fri, 06 Jul 2018 12:27:23 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/Paulinho-faz-contra-a-Sérvia-seu-primeiro-gol-na-Copa-do-Mundo-Matthias-Schrader-27.jun_.18AP-150x150.jpeg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=343 O meia Paulinho, titular da seleção brasileira e autor de um dos sete gols do Brasil na Copa, está perto de fechar sua volta para o futebol da China.

O seu agente, Kia Joorabchian, entregou uma proposta de 50 milhões de euros ao Barcelona, para transferência imediata. O nome do clube não foi revelado. (atualização: o clube é o Guangzhou Evergrande, onde já jogou. A página do Barça no Weibo, o Facebook chinês, chegou a anunciar a transferência, mas o post foi apagado em seguida).

Pelo valor e pela idade de Paulinho, que completará 30 anos no próximo dia 25, a proposta agradou. Ela supera em 10 milhões de euros o que o clube pagou um ano atrás ao Guangzhou Evergrande, também da China.

Mas o técnico Ernesto Valverde disse que não tem outro jogador com o mesmo perfil no elenco: um volante de força, de boa chegada ao ataque e artilheiro. O Barcelona já teria por isso ido atrás do francês Rabiot, titular do PSG em grande parte da última temporada.

Coincidência ou não, o Barcelona anunciou hoje a contratação do também volante Arthur, do Grêmio. Com ele, Paulinho, Philippe Coutinho e Mina, destaque da Colômbia na Copa do Mundo, o Barcelona estourou sua cota de jogadores extracomunitários. Um terá que sair.

Negociações de jogadores que estejam disputando Copas do Mundo são bastante comuns. É improvável que alguma seleção entre as oito finalistas não tenha nenhum jogador nessa situação.

Os agentes cuidam do assunto quase sozinhos. Só consultam os jogadores sobre os pontos-chave.

O que surpreende é que o brasileiro esteja disposto a largar o Barça apenas uma temporada depois de chegar.

E principalmente depois de tantas odes públicas de veneração pelo clube.

No Player’s Tribune disse ter voado da China para Barcelona, com mulher e dois amigos, no mesmo dia em que obteve a confirmação da proposta do clube catalão.

Lá e em várias publicidades ligadas à Copa disse que encarou a ida ao futebol chinês como uma espécie de exílio.

Em várias oportunidades, expressou gratidão ao técnico Tite por tê-lo chamado de volta à seleção quando ele estava na China.

Carreira

Poucos jogadores da história do futebol têm uma carreira de frustrações e superações como a de Paulinho.

Iniciou a carreira na Polônia e Lituânia, onde enfrentou muitos problemas. Voltou ao Brasil pelo pequeno Pão de Açúcar,

Chegou ao Corinthians em 2010, aos 21 anos, quase desconhecido e sob desconfiança. Estreou, vindo do banco, num jogo em que o Corinthians de Ronaldo foi eliminado da Libertadores pelo Flamengo . Desde a estréia, correspondeu.

Na campanha da Libertadores, em 2012, foi um destaque, marcando gols desde a primeira partida. Foi titular na conquista do Mundial. Suas atuações o levaram ao Tottenham.

No clube inglês, chegou em 2013 como estrela, teve um início bom, mas logo mostrou problemas de adaptação. No segundo ano, só foi titular em sete jogos e, sem horizonte, decidiu ir para a China, um ano depois da Copa no Brasil.

Na seleção, estreou em 2011, num torneio caça-níqueis, e atingiu seu primeiro auge em 2013, quando foi campeão da Copa das Confederações. Começou a Copa-14 como titular, mas perdeu a posição em alguns jogos. Não estava em campo nos 7 a 1. Com Dunga foi esquecido e só voltou com Tite.

Paulinho é o volante com mais gols na história da seleção, 13.

Kia

Seu agente, Kia Joorabchian, também tem história no Brasil. Já foi gestor do Corinthians, entre 2004 e 2006, quatro anos antes de Paulinho chegar ao clube. Ele era o executivo chefe da MSI, uma empresa que tinha por trás o bilionário russo Boris Berezovsky.

Na época, Kia trouxe os argentinos Carlos Tevez e Javier Mascherano, que foram campeões brasileiros em 2005. No ano seguinte, por desavenças com o presidente do clube, Alberto Dualib, rompeu a parceria e conseguiu a liberação dos jogadores sem custos. Desde então tornou-se agente, atuando muitas vezes em parceria com megaagentes como o romeno Constantin Dumitrascu e o israelense Pini Zahavi.

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Lateral direita é sinônimo de encrenca e surpresa para o Brasil em Copas https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/05/lateral-direita-e-sinonimo-de-encrenca-e-surpresa-para-o-brasil-em-copas/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/05/lateral-direita-e-sinonimo-de-encrenca-e-surpresa-para-o-brasil-em-copas/#respond Fri, 06 Jul 2018 02:55:37 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/Danilo-durante-treino-da-seleção-Lucas-Figueiredo-27.jun_.18-CBF-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=333 A lesão de Danilo confirma uma sinistra tradição da seleção em Copas. A lateral direita é uma das posições mais abaladas por contusões.

Embora tenha havido um período de tranquilidade nos quatros Mundiais entre 2002 e 2014, a tradição é de acidentes. Desde 1958, houve pelo menos nove lesões graves em jogadores da posição às vésperas da Copa ou durante a competição. Somadas à desistência do então titular Leandro em 1986, são dez alterações inesperadas.

Apesar disso, em algumas vezes, o substituto não só jogou acima da expectativa como superou o titular –como aliás tem acontecido com Fágner na Rússia até aqui. Nas duas vezes em que houve uma troca na final, o Brasil foi campeão. Em todas as outras, a seleção voltou sem taça. Mas não houve caso anterior de o problema acontecer durante a Copa com o reserva.

Em 1958, De Sordi foi o titular nos cinco primeiros jogos. Na semifinal, sentiu uma lesão e não disputou a final. Djalma Santos entrou em seu lugar e o Brasil foi campeão. O novo titular acabaria eleito o melhor da posição da Copa mesmo atuando uma vez.

Em 1974, Carlos Alberto (que anos depois ganharia o “Torres” ao nome para diferenciá-lo de um homônimo), capitão do tri, era titularíssimo para a Copa de 1974, quando sofreu uma lesão e foi barrado da Copa. O corintiano Zé Maria passou a titular e Nelinho, do Cruzeiro, entrou como reserva.

Na fase de preparação, Zé Maria também se machucou. Nelinho foi titular nos três primeiro jogos, indo para o banco nos seguintes.

Quatro anos mais tarde, Zé Maria era de novo o titular, quando torceu o joelho direito. O caso era mais sério, ele foi cortado da delegação e nem chegou a ser inscrito. O reserva Toninho virou titular e Nelinho de novo foi convocado, tendo ganhado a posição ao longo dos jogos.

Em 1986, o lateral-direito Leandro, que já tinha sido o titular em 1982, abandonou a seleção no dia do embarque para o México, depois que Renato Gaúcho, hoje técnico do Grêmio, foi cortado por chegar atrasado à concentração depois de uma folga. Como Leandro tinha ido junto, saiu em solidariedade ao companheiro. Edson, que era o reserva, passou a titular, e Josimar foi convocado.

Numa coincidência bizarra, já que ambos jogavam no Corinthians, ocorreu a Edson o mesmo que a Zé Maria em 1974. Pouco tempo depois de virar titular, também se machucou –no seu caso durante a disputa– e cedeu a posição a Josimar. E o botafoguense não saiu mais. Josimar fez golaços de fora da área em dois jogos seguidos e se tornou uma estrela daquela competição.

A lesão seguinte ocorreu em 1994. Jorginho que disputara o Mundial de 1990 e repetia a dose nos EUA, se machucou no início da final contra a Itália. Teve de ceder o gosto de comemorar o título em campo a Cafu, que foi o titular pelas três Copas seguintes, sem jamais se lesionar, um recorde na seleção.

Mas, se Cafu não se lesionou em 1998, seu reserva sim. Como naquela época eram convocados 22 e não os atuais 23 jogadores, e já havia três goleiros, toda seleção tinha uma posição sem um reserva imediato. Para aquele Mundial, Zagallo chamou Flávio Conceição como reserva do volante César Sampaio e de Cafu. Só que o reserva dublê se machucou dias antes da apresentação, pelo La Coruña (ESP). Em seu lugar, chegou o lateral Zé Carlos, que enfrentou a Holanda, porque Cafu estava suspenso.

Entre 2002 e 2014, houve quatro Copas sem nenhum percalço, exceto a troca de Daniel Alves por Maicon como titular durante a disputa no Brasil. Mas a razão foi técnica.

Até que neste Mundial, pela primeira vez, houve três acidentes, dois graves. Em maio, poucos dias antes da convocação, Daniel Alves, titular e capitão da seleção teve uma entorse grave no joelho direito pelo PSG e ficou fora da Copa. Tite convocou Danilo e Fagner sem indicar quem seria o titular. Danilo fez o primeiro jogo e se machucou na região do quadril. Fagner entrou e foi melhor que o colega. Quando Danilo já estava recuperado, ocorreu a torção no tornozelo esquerdo.

Sem possibilidade de trocar, Fagner tem que passar um dos próximos dois jogos sem levar cartão amarelo.

 

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Caso Neymar afeta a cobertura da Copa https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/05/caso-neymar-afeta-a-cobertura-da-copa/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/05/caso-neymar-afeta-a-cobertura-da-copa/#respond Thu, 05 Jul 2018 21:14:10 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/Jordan-Henderson-ING-simula-ter-sido-atingido-no-rosto-após-levar-abeçada-no-queixo-de-Barrios-COL-Frank-Fife-3.jul_.18-AFP-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=326 As matérias publicadas no Brasil sobre o jogo Colômbia x Inglaterra mostram como o assunto de Neymar afetou a cobertura brasileira da Copa. Em diversos jornais e portais, incluindo todos os principais como a Folha, houve um ataque aos “ingleses”, supostamente os mais críticos.

Os títulos, em várias formulações, dizem que os “ingleses”, depois de criticar Neymar, cometeram simulações no jogo contra a Colômbia.

Em primeiro lugar, não há um só inglês que se encaixe nessa descrição. Os jornalistas ingleses que fizeram as críticas não jogam na Copa. E os jogadores que estão na Rússia, tendo simulado ou não, não fizeram críticas. Não há nenhuma ligação entre os críticos e os simuladores que não seja o passaporte.

Os textos, além de criticar os “ingleses”, apontam uma suposta leniência da arbitragem com as simulações dos jogadores dessa seleção. Há de fato encenações inquestionáveis, mas não no nível das do camisa 10 do Brasil.

E, se os ingleses não foram punidos, Neymar também não foi por fantasiar a gravidade de suas lesões no terceiro e no quarto jogos. Ele só foi punido por reclamação no segundo jogo, minutos após a anulação do pênalti.

E nem todas as simulações relatadas são reais. Um dos casos apontados no jogo contra a Colômbia é o caso de Ashley Young, que teria feito de fato aquilo de que se acusou Neymar no último jogo. Só que não.

Young, é bom que se diga, é famoso na Premier League por ser simulador. No jogo, caiu aos 20min do segundo tempo. O jogo parou aos 22min, foi atendido em campo, e aos 24min ele estava de volta à partida, após sair e voltar. O atendimento durou menos de 2min –e não 5min, como disse um comentarista de TV.

Não há caso de jogador que fique caído na sua área, tirando o impedimento, só para simular uma falta. E, ao contrário, é muito comum que atletas atendidos em campo peçam para voltar assim que cumpram a obrigação de sair.

O caso de Neymar contra o México é diferente. O brasileiro já caiu fora de campo. E, ao contrário de toda a Copa, a partida ficou parada com um jogador atendido fora de campo. E por 4min.

A semelhança dos dois casos é que, ao voltarem, ambos estavam recuperados. Treze minutos depois, Neymar fez a jogada do segundo gol. Young, bem mais limitado, não teve nenhum lance de destaque nem participou dos pênaltis.

Para verificar se eu não estava exagerando, consultei jornais de países com bom futebol e que estão fora da Copa, como EUA, Holanda, Itália e Chile nesses dois jogos. Países neutros. O tom era o mesmo da Inglaterra. A maioria elogiou a habilidade de Neymar e o criticou duramente pelo teatro. Pouco se falou das cenas inglesas.

E não faz sentido achar que Neymar seja alvo de uma perseguição internacional –embora isso também tenha sido escrito.

Em todas as críticas há a ideia subliminar de que a imprensa da Inglaterra está protegendo a sua seleção. É bem o contrário. Em 2016, no meio das eliminatórias, o The Telegraph, de Londres, usando seus repórteres sob disfarce, revelou um esquema de corrupção no futebol inglês, que derrubou até o técnico da seleção, Sam Allardyce. São raríssimos os países onde esse tipo de reportagem acontece.

A mensagem que passa dessas matérias é que, se os jornalistas ingleses criticam Neymar por fingir faltas, ou encenar demais nas que ocorreram, então deveriam cobrar o mesmo da sua seleção. E, se eles não o fazem, os brasileiros põem o dedo na ferida.

Por quê? O que temos a ver com isso? Por que se sensibilizar com esses caras?

Se a imprensa inglesa fosse tão poderosa e tão parcial a favor dos interesses de sua seleção quanto as reações sugerem, a Inglaterra já teria mais títulos, e a relação entre jogadores e jornalistas seria fraterna. E nada disso é verdade.

 

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