Marcelo Damato https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br A paixão, o dinheiro e o poder que envolvem a Copa. E um pouquinho de bola... Sun, 15 Jul 2018 17:25:28 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Fica, Tite!… Será? https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/07/fica-tite-sera/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/07/fica-tite-sera/#respond Sat, 07 Jul 2018 16:20:39 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/O-técnico-Tite-que-dirigiu-a-seleção-na-Copa-da-Rússia-Joe-Klamar-17.jun_.18-AFP-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=363 Fica, Tite. Fica, Tite. Fica, Tite. Fica, Tite! Fica, Tite!!

Desde a eliminação da seleção, essa frase domina a pauta do futebol do Brasil. Está nos jornais, TVs e redes sociais. Daqui a pouco, vai virar uma palavra só: Ficatite.

O argumento básico do discurso é que o treinador fez um bom trabalho e merece continuar.

Mas a maioria vai além: a manutenção de Tite seria um avanço da CBF, do futebol brasileiro e até do Brasil. Manter o técnico mostraria um amadurecimento nacional. Romperia com a tradição de, após um fracasso, recomeçar tudo do zero.

E, quando as coisas começam a ficar tão emocionais, a luz amarela acende.

Por que Tite virou unanimidade? A seleção jogou bem, mas será só isso? Não. É uma identificação pessoal.

Além de seu conhecimento em futebol, os brasileiros enxergam em Tite várias qualidades que acham que faltam ao país.

Ética – Numa comunidade abalada pelos escândalos de corrupção, honestidade e ética viraram obsessão.

Confiança/otimismo – Quem olha para o futuro do Brasil e vê um sol no horizonte?

Comprometimento – O que somos senão o país dos feriados e do jeitinho?

Sinceridade – Os brasileiros adoram quem explode, chora, rola no gramado etc. E Tite vai além, até confessa erros.

Equilíbrio – Diante de 200 milhões, para quem tudo é maravilhoso ou trágico, Tite é uma voz de serenidade.

E não importa se Tite é ou não assim. Importa como ele é visto.

Conta também a favor de Tite a falta de opções.

Renato Gaúcho está em alta no Grêmio, mas é quase seu oposto: Malandro, intuitivo e vaidoso, seria o nome perfeito se buscassem um novo Felipão. Mas, depois dos 7 a 1, o técnico do penta ficou meio queimado.

Fábio Carille tem um ótimo início de carreira. Mas a questão é justamente essa: está no começo. E, para ter outro Tite, é melhor manter o original.

Cuca foi campeão no Palmeiras, mas depois criou muita confusão. E esse negócio de nomear comentarista de Copa para ser técnico não tem dado certo. Falcão e Dunga são exemplos.

Mano Menezes é parecido no jeito de trabalhar. Gosta de ciência, de time equilibrado. Mas sua primeira passagem na seleção não foi boa. E não gera empatia como Tite.

E um estrangeiro? Basta ver o que disseram jogadores, jornalistas e torcedores na Copa para perceber que conviver com um estrangeiro sem uma experiência anterior no país será um grande desafio. E, dos que têm, nenhum convenceu.

Mas, realmente, nada disso importa.

A não ser que não queira, Tite vai continuar. Basta ver quase todas as nomeações anteriores dos técnicos da seleção. A tradição da CBF é responder a um anseio da sociedade –e principalmente da imprensa esportiva.

A seleção viveu na balada em 2006? Contrata-se Dunga para pôr ordem na casa. Os brasileiros estavam inseguros com Mano Menezes? Então se contrata não um, mas dois campeões mundiais para dirigir a seleção na Copa do Brasil. Faltou coragem ao Brasil em 2014? Chama-se Dunga de novo. Dunga era criticado em 2016 por falta de conhecimento e títulos? É a vez de Tite.

Mas, se Tite ficar, não poderá ser esse da Copa da Rússia. O técnico cometeu erros importantes. O principal foi não ter controlado Neymar.
A seleção gastou uma enorme energia para criar as melhores condições para o camisa 10 brilhar –e ele não brilhou. E com isso se descuidou de outros aspectos.

Tite não foi capaz de ver que sem Casemiro, o Brasil precisa de reforço na marcação. Não viu que era Casemiro e não os midiáticos Neymar e Thiago Silva quem desequilibrava a favor da seleção.

E, contra a Bélgica, Tite foi surpreendido pelo mesmo esquema que seu pupilo Carille usou neste ano no Corinthians.

Já ouvi que “não se pode cobrar perfeição de Tite”, como se dissessem que, como Deus não pode assumir o cargo, Tite é a melhor opção.

Já que nem Deus, nem melhores técnicos podem vir, então iremos de Tite. Fez um bom trabalho, é inegável. É a decisão correta.

Mas achar que isso é um grande passo para o hexa –e principalmente para o Brasil– é um tremendo autoengano.

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E o complô virou ‘empurrão muito leve’ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/30/e-o-complo-virou-empurrao-muito-leve/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/30/e-o-complo-virou-empurrao-muito-leve/#respond Sat, 30 Jun 2018 03:24:33 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Zuber-da-Suíça-faz-gol-de-empate-contra-o-Brasil-Jason-Cairnduff-17.jun_.18-Reuters-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=263 Assim que terminou o empate entre Brasil e Suíça, as redes sociais explodiram:

“Há (mais) um complô para tentar impedir o Brasil de conquistar o hexa!”

Em minutos, parentes e amigos de profissões que variavam de professor universitário a delegado da Polícia Federal inundaram o meu zap –e milhares de outros– com duas certezas. Não apenas a seleção brasileira fora prejudicada –tanto no lance do gol da Suíça, como no suposto empurrão sofrido por Gabriel Jesus–, como aquilo fora feito de forma intencional.

Lendo as mensagens com mais cuidado, se verificava que o complô era, de fato, vários.

1) O árbitro era mexicano e estava querendo se vingar porque a CBF votara na candidatura do Marrocos para a Copa de 2026, vencida pelo México, ao lado de EUA e Canadá.

2) O presidente da Fifa, Gianni Infantino, havia ligado para a sala do VAR e proibido o uso do equipamento naquele lance, em retaliação contra aquele mesmo voto, proferido pelo Coronel Nunes.

3) A Fifa não quer mais um título do Brasil porque isso faria os torcedores perderem interesse na Copa (essa é bem tradicional, repetida desde a Copa de 1998, antes da conquista do penta).

4) A Copa é na Europa, e os europeus não vão aceitar mais um título de seleções de outro continente. Já basta o de 1958 (essa é a mais antiga, vem pelo menos desde 1974).

Obviamente quem pensa nisso não se lembra que os brasileiros são a segunda maior delegação de torcedores na Rússia (atrás dos EUA). E nem que, se acúmulo de títulos fosse um problemaço para o negócio do futebol, o Real Madrid não seria tri da Liga dos Campeões.

E é igualmente evidente que quem vê um conspiração sempre desmerece a inteligência do conspirador –seria muito mais fácil eliminar o Brasil num jogo de mata-mata, único e com adversário mais forte, do que na fase de grupos e com três adversários inferiores.

E, quando veio o segundo jogo, e o pênalti inicialmente marcado sobre Neymar foi anulado com ajuda do VAR, ninguém mais se lembrava qual era a conspiração que valia, só que havia uma.

Chegou-se a dizer que os árbitros estavam desmoralizados, que o VAR tinha virado o poder supremo. Ué, mas a reclamação no primeiro jogo não era justamente o contrário, de que o árbitro ignorara o VAR e decidira sozinho?

Se você se impresssionou com essa contradição, para os teóricos da conspiração não faz a menor diferença. O importante é manter o foco no inimigo –seja qual for.

Nesta sexta, a Fifa divulgou o áudio da conversa entre o pessoal do VAR e o tal arbitro mexicano no lance do gol suíço. Concluem que o empurrão sobre o zagueiro Miranda foi “muito leve”. Por isso, o árbitro nem se deu ao trabalho de ir àquele reservado com monitor que lembra uma espécie de lavabo ao ar livre.

Era fácil rebater essa gravação. Afinal, o que garante que aquilo não foi fabricado depois, que na verdade é mais uma prova de que estão perseguindo o Brasil?

Mas, como a seleção ganhou bem o terceiro jogo, ninguém nem prestou atenção na explicação. Nem quis rebater. Com a classificação para as oitavas, as conspirações evaporaram.

Até a próxima derrota.

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Brasil se reencontra e faz melhor partida https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/27/brasil-se-reencontra-e-faz-melhor-partida/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/27/brasil-se-reencontra-e-faz-melhor-partida/#respond Wed, 27 Jun 2018 20:08:19 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Neymar-finaliza-contra-o-goleiro-Stojkovic-na-vitória-sobre-a-Sérvia-Antonio-Calanni-27.jun_.18-AP-150x150.jpeg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=241 Nos primeiros minutos, parecia que a tarde (aqui)/noite (lá) seria de sofrimento para jogadores e torcedores.

O lateral-esquerdo Marcelo, um dos destaques do time –e o único lateral da seleção original, após a perda de Daniel Alves– teve de ser substituído, por questões físicas. O aparente mistério sobre a causa piorou ainda mais os sentimentos.

Mas o fato é que Marcelo nem fez falta. Sem ele –não por causa disso–, o Brasil fez sua melhor partida neste Mundial.

Se na véspera, nas mesas-redondas, os jornalistas, quase em desespero, falavam em chance real de eliminação, a seleção jamais se desesperou e foi se impondo, passo a passo, sobre a Sérvia.

Se nos dois anteriores, jornalistas e torcedores cobravam mudanças no time, com a saída de Paulinho e Willian, foi o meia, que numa jogada típica, infiltrou-se e abriu o marcador. A partir dali, a Sérvia seria outra, com bem menos confiança.

No início do segundo tempo, a Sérvia, que precisava marcar 2 gols em 45min e não mais 1 em 90min, até fez uma certa pressão. Aí Tite trocou Paulinho por Fernandinho, o Brasil voltou a dominar o meio-campo.

Logo depois, Thiago Silva, que teve grande atuação, fez o segundo gol, num escanteio. O lance foi em parte coletivo. Miranda, na primeira trave, se enganchou com o centroavante Mitrovic, que protegia o setor, e os dois caíram. Thiago viu o espaço, se antecipou e finalizou.

Neymar teve uma atuação mais discreta do que nos primeiros jogos, mas fundamental. Mais aberto na ponta, tocou menos na bola e a segurou muito menos. com isso, todos os outros jogadores evoluíram.

Neymar não esteve num grande dia. Menos inspirado, foi disciplinado, focado e contido. Sofreu menos faltas e não reclamou nenhuma vez. Não fez firula e jogou em equipe.

E principalmente não chorou nem reclamou. E ninguém do Brasil reclamou.

Ainda não são o Neymar e o Brasil que se espera, mas ambos, enfim, parecem estar no caminho certo.

 

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Argentinos ‘bagunçam’ a Copa da Fifa https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/27/argentinos-baguncam-a-copa-da-fifa/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/27/argentinos-baguncam-a-copa-da-fifa/#respond Wed, 27 Jun 2018 07:18:55 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Torcedora-na-Praça-san-Martín-em-Buenos-Aires-assiste-à-derrota-da-Argentina-para-a-Croácia-Eithan-Abramovich-21.jun_.18-AFP-150x150.jpeg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=206 Começou a Copa do Mundo dos argentinos. Se a Copa da Fifa é um símbolo do século do século 21, tecnológica, organizada e alegre, a Copa dos argentinos é diferente. A torcida, os ídolos e o time parecem funcionar no modo anos 90, mais caótica, menos eficiente e muito mais apaixonada.

E agora, após passar pela Nigéria, o espírito argentino esquentou “de vez” –pelo menos até sábado.

Maradona mostra tapete com sua imagem no estádio antes do jogo Argentina x Nigéria (Paul Ellis – 26.jun.18/AFP)

Na arquibancada, o símbolo desse misto de paixão e bagunça –com uma pitada de farsa– é o ex-jogador Diego Maradona. No primeiro jogo, fumou um charuto, o que é proibido. No segundo, urrou contra o próprio time.

No terceiro e decisivo contra a Croácia, roubou o show. Usou dois relógios de pulso –outra vez– e uma camiseta com seu tradicional patrocinador de uniforme. E gritou, urrou, chorou, sorriu, xingou, mostrou o dedo e até cochilou durante o jogo.

Recebeu uma homenagem de torcedores, pousou para fotos de centenas de fãs, bateu boca feio com alguns e até passou mal no final, tendo de receber tratamento médico.

Oficialmente, Maradona está na Copa a convite da Fifa, que lhe paga, segundo jornalistas ingleses, 10 mil dólares por dia. E cumpriu seu papel. Enlouqueceu seus fãs, que tudo lhe perdoam, e irritou seus haters.

Mascherano com o supercílio aberto e camisa manchada de sangue (Giuseppe Cacace- 26.jun.18/AFP)

Dentro de campo, o espírito não está em Messi, Dybala ou Aguero, seus maiores talentos, mas no volante Mascherano. “El Jefito”, aos 34 anos, já está em fim de carreira. Não atua mais no Barcelona, foi exilado para a China.

Na seleção, porém, ele é o capitão. Com o respaldo da torcida, Masche pode dizer e fazer quase o que quiser.

Nesse jogo, até o experiente árbitro turco Cuneyt Çakir, teve de se dobrar. Juiz da final do Mundial de Clubes de 2012 –aquela–, de uma semifinal da Copa do Mundo de 2014 -–a outra– e da Liga dos Campeões de 2015, não foi páreo para o ex-jogador do Barcelona.

No segundo tempo, Mascherano levou um golpe no supercílio esquerdo, que passou a sangrar e até manchou sua camiseta. A regra o obrigava a sair e se tratar. Mas o jogo estava tenso, a Argentina empatava, e El Jefito ficou até o fim. E Çakir se fingiu de morto.

O técnico argentino Jorge Sampaoli, já sem blazer, grita desperado durante a derrota para a Croácia (Petr David Josek – 21.jun.18/AP)

Num ambiente assim, a hierarquia não vale muito. Após o segundo jogo e diante da ameaça de eliminação, os jogadores, liderados por Mascherano, simplesmente atropelaram o técnico Jorge Sampaoli e decidiram a equipe do terceiro jogo.

O treinador, que chegara com moral por seu trabalho com a seleção do Chile, perdeu-se no comando da Argentina no Mundial. A cada jogo, mudou de time, de estilo e, sintomaticamente, até o estilo da roupa. Na derrota para a Croácia, seu desespero era evidente. Como num enredo de filme B, após o segundo gol do rival, tirou o blazer e ficou de camiseta. No terceiro jogo, já era um fantasma. Ao apito final, foi para o vestiário sem falar com ninguém.

Torcedor após derrota para a Croacia no estádio em Nizhny Novgorod Copa 2018 (Dimitar Dilkoff – 21.jun.18/AFP)

Nesse caldeirão de emoções, a torcida também tem um papel central. Em São Petersburgo, os torcedores não ligaram para a ameaça de eliminação e ficavam em centenas na porta do hotel da seleção, cantando e incentivando.

Todos os dias centenas de torcedores fazem grandes desfiles pela cidade mostrando amor pela seleção. Agora, com a classificação, a manifestações devem crescer.

Torcedores argentinos vivem e dormem em carros na praia de Copacabana dirante a Copa do Mundo de 2014 (Eduardo Anizelli – Jun.14/Folhapress)

E isso não é novo. Os argentinos repetiram o que haviam feito no Brasil, em 2014. Chegaram às dezenas de milhares, por todo tipo de transporte, especialmente em carros, motorhomes e ônibus, muitos dele caindo aos pedaços.  Ocuparam todas as sedes da Copa, especialmente São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde a seleção argentina ficou concentrada. Dormiam em carros, barracas e ônibus, tanto emm bolsões como simplesmente na rua. A grande maioria dos torcedores veio sem ingresso, só para sentir a Copa de perto.

Alguns torcedores vieram de carona, desde a Patagônia.

No Brasil, a viagem de volta foi apenas na noite após a final. Desta vez, pode ser a qualquer momento, a partir de domingo.

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