Marcelo Damato https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br A paixão, o dinheiro e o poder que envolvem a Copa. E um pouquinho de bola... Sun, 15 Jul 2018 17:25:28 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Por um futebol com mais gols https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/15/por-um-futebol-com-mais-gols/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/15/por-um-futebol-com-mais-gols/#respond Sun, 15 Jul 2018 17:25:28 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/Mbappé-comemora-o-quarto-gol-da-França-na-final-da-Copa-Martin-Meissner-AP-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=416 A Copa acabou. E inegavelmente a sensação geral é de que foi uma Copa especial, com ótimos jogos, boas equipes, muita emoção. Até no Brasil, esse é o sentimento, apesar da eliminação precoce da seleção e da polêmica com Neymar.

Mas aí fica a questão: por que desta vez a sensação é boa? Em várias das outras Copas, isso não aconteceu. Em algumas, se defendeu até a sua extinção e a troca por um Mundial de Clubes.

Neste Mundial, o clima (físico e emocional) foi bom, o VAR deu um tempero, até na final, houve craques do começo ao fim, tudo ajudou. Mas os maiores heróis foram os gols e a competitividade.

Na Rússia, não houve aumento de gols em relação aos 171 de 2014, no Brasil. Mas houve mais gols valiosos. Entre 5×0 e 7×1 não faz grande diferença. Entre 0x0 e 1×0 (ou 1×1) faz.

Este foi o Mundial com menos 0x0 desde 1954. Até a competição na Suíça (a quinta edição), jamais tinha acontecido. Eles estrearam em 1958 (num Brasil x Inglaterra) e desde então nunca houve menos de dois por competição. De 2006 a 2014, houve sete em cada; neste ano, apenas um.

Além disso, desde 1974 não acontecia um Mundial sem 0x0 após a Primeira Fase.

O mata-mata foi ainda mais especial. Quebrou o recorde de gols e pela primeira vez na história da Copa um mata-mata de terminou sem nenhuma goleada. Desta vez apenas quatro jogos terminaram com diferença de dois gols. Dos cerca de 1.700 minutos, considerando os jogos, os tempos de acréscimo e as cinco prorrogações, em apenas 115 a diferença era maior do que um gol.

A velocidade do jogo também deu mais emoção. A briga pela posse deu espaço a um estilo mais NBA, tanto da França, como da Croácia e da Bélgica: habilidade e força física como aliadas, não mais como inimigas.

Mas ter saído gols para os dois lados em tantos jogos tornou a festa ainda maior, dentro e forma dos estádios. E ter havido tantas viradas –duas apenas em França 4×3 Argentina—também ajudou.

Quanto mais tempo as duas equipes sonham com a vitória, melhor o jogo.

Por isso, a Fifa deveria pensar uma forma de aumentar essa festa. Mudar as regras para que as médias de gols subam um pouco, o suficiente não só para extinguir o 0x0 mas para reduzir muito os 1×0, 2×0 etc, para dar às duas torcidas o gosto de celebrar ao menos um gol, de ter uma memória boa a cada jogo.

Além disso, com mais gols, a influência dos erros de arbitragem, seria menor. A experiência do VAR mostrou que há um certo limiar de erros abaixo do qual não dá para passar.

Assim, a festa seria ainda maior.

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Este blog para por aqui. Foi um prazer escrever neste espaço. Até a próxima.

 

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Copa da Rússia pune quem joga de verde https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/27/copa-da-russia-pune-quem-joga-de-verde/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/27/copa-da-russia-pune-quem-joga-de-verde/#respond Wed, 27 Jun 2018 17:35:30 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Mario-Gómez-e-Hummels-lamentam-a-eliminação-da-Alemanha-Michael-Dalder-27.jun18-Reuters-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=224 Mal terminou o jogo que determinou a eliminação da Alemanha da Copa do Mundo, as redes sociais se inundaram de posts, memes e gifs que associaram o resutado ao fato de os alemães terem jogado de camisa verde.

A brincadeira, já tradicional, é com o fato de o Palmeiras não ter um título mundial. A conquista da Copa Rio de 1951 não é reconhecida pela Fifa. O Palmeiras tentou o reconhecimento, chegou a mostrar um fax que atestaria a posição da Fifa, mas a entidade nunca formalizou a equivalência, aumentando ainda mais as gozações.

Até o ex-presidente da Fifa Joseph Blatter entrou na polêmica. Numa entrevista à Folha, disse que considerar o Palmeiras campeão e em seguida riu.

Diante da provocação, decidi verificar o que aconteceu com quem jogou de verde nesta Copa.

O resultado impressiona.

Nigéria – Dos três jogos, fez dois com camisa verde. Duas derrotas. Só ganhou quando jogou de branco. Está eliminada.

Arábia Saudita – Ganhou seu único jogo jogando de verde. Mas com essa camisa levou de 5 a 0 na abertura da Copa. Está eliminada.

México – De verde, obteve uma vitória sobre a Alemanha, mas também levou de 3 a 0 para a Suécia. O resultado teria eliminado os mexicanos, se a Alemanha, que também jogou de verde, tivesse vencido a Coréia do Sul, num jogo simultâneo. Jogando de branco, venceu. Passou em segundo.

Alemanha – Campeã de 2014, Venceu e perdeu jogando de branco, inclusive a na estreia, contra o México (de verde). Nesta quarta, de verde, foi eliminada após derrota para a Coréia do Sul, que não tinha nenhum ponto. Terminou em último lugar.

Senegal – Venceu a Polônia –já eliminada– de verde e empatou com o Japão de branco. Decide a vaga nesta quinta-feira, contra a Colômbia. Atualização: jogando de verde, perdeu da Colômbia por 1 a 0 e foi eliminada.

Austrália – Conseguiu seu único ponto, contra a Dinamarca, jogando de verde. Perdeu duas de amarelo. Está eliminada.

Alguns clubes têm verde na bandeira, mas preferiram deixar essa cor de lado na camisa. Brasil, Portugal e Irã são exemplos.

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Copa do VAR está virando várzea https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/26/copa-do-var-esta-virando-varzea/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/26/copa-do-var-esta-virando-varzea/#respond Tue, 26 Jun 2018 08:08:20 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Sérvia-x-Suíça-Lichtsteiner-e-xxxx-agarram-Mitrovic--150x150.jpeg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=193 O VAR, a novidade da Copa, para reduzir os erros de arbitragem e as cenas de reclamação no gramado, está indo bem no primeiro objetivo, mas é um fracasso retumbante e crescente no segundo.

Quem criou o VAR deve ter imaginado um cenário de NFL. Quando é chamado o VAR, os jogadores aguardam pacientemente a revisão e depois festejam ou lamentam o resultado. Nenhum daqueles gigantes, que chegam a pesar 160 kg e medir 2,05 metros de altura, ousa mover um dedo em relação aos homens de boné.

Só que os bacanas da Fifa se esqueceram de dois pontos essenciais: com a novidade, iria cair, como caiu, a tolerância para com os erros –uma coisa é um jogo conduzido por olhos humanos, outra é ter ajuda de dezenas de câmeras–; e a própria cultura do futebol, em que a reclamação não só é muito presente, como vem crescendo.

Profissionais de futebol são de longe os atletas que mais contestam a arbitragem em todo o planeta. Mesmo em esportes em que os bate-bocas entre técnicos e árbitros já foram em alguma época quase uma atração, como o beisebol da MLB, o habito de contestar as marcações não se compara ao futebol.

No esporte da Copa, jogadores, reservas, treinadores, cartolas e até os gandulas tentam tirar uma casquinha do árbitro, sempre que possível.

Para piorar, por aparentes desrespeitos ao protocolo do VAR, foram cometidos erros grosseiros. O principal caso ocorreu na partida entre Sérvia e Suíça, na última sexta-feira. Num cruzamento, o atacante Mitrovic foi agarrado fora ao mesmo tempo por dois suíços, Lichtsteiner e Ljajic, e forçado a ir para o chão, num lance que lembrou mais rúgbi ou futebol americano. Outro lance notório foi um pênalti sobre o inglês Harry Kane diante da Tunísia. Nenhum dos dois foi marcado.

O VAR não foi usado nos lances, e a Fifa até agora ignora o protesto dos sérvios.

E esse não é o único problema. Os árbitros estão sendo aconselhados a não interromper jogadas duvidosas e deixar o VAR resolver depois. Até a marcação de impedimentos estão sendo jogada nas costas do quarteto que fica na salinha.

Com a soma desses fatores, a Copa está virando uma várzea. Nunca houve um Mundial em que os árbitros fossem tão cercados como este. Se, na primeira rodada, os apitadores até conseguiram afastar os jogadores e mostrar autoridade, nos últimos dias, a pressão chegou perto do contato físico.

No jogo entre Portugal e Irã, na última segunda-feira, os ânimos estavam exaltados quase desde o começo. Dedo na cara do árbitro era cena quase comum. Com dois pênaltis e um lance passível de expulsão detectados pelo VAR, as paralisações viravam cenas quase cômicas. A cada parada, os jogadores do time que poderia ser beneficiado buscavam abrir o caminho do juiz até o monitor, enquanto os do outro o cercavam, como crianças diante da mãe, com medo de que ela descobrisse que o vaso da vovó tinha virado caco.

E no final o efeito nem foi tão grande. Dos dois pênaltis, um foi convertido. E a suposta agressão de Cristino Ronaldo a Pouraliganji lhe rendeu um econômico cartão amarelo.

Se essa pressão aconteceu numa partida em que mal e mal estava em disputa uma vaga –o Irã precisava vencer e ficou a maior parte do jogo atrás no marcador–, imagina-se o que pode ocorrer quando chegarem as quartas, semis e final.

A Fifa precisa agir e rápido.

O comando da arbitragem e da Fifa teria uma solução simples para reduzir o problema: punir, com amarelos e vermelhos, todo mundo que se excede. Isso aliás está na regra.

Mas não vai acontecer. Se isso fosse executado, em primeiro lugar um monte de partidas não terminaria. E jogadores, treinadores, cartolas e até jornalistas pressionariam tanto que não seria difícil o próprio presidente da federação ficar ameaçado.

A estratégia da Fifa parece esperar que a situação saia de controle para aplicar suas regras com menos resistência.

Hoje tem mais jogos decisivos.

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Agentes ameaçam processar Fifa contra limites em seus ganhos https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/23/agentes-ameacam-processar-fifa-contra-limites-em-seus-ganhos/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/23/agentes-ameacam-processar-fifa-contra-limites-em-seus-ganhos/#respond Sat, 23 Jun 2018 16:33:12 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Mino-Raiola-agente-de-futebol-150x150.jpeg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=157 Durante a Copa da Rússia, a bola (quase) para no mundo, mas não a política da bola. Um grupo de super-agentes de futebol ameaça ir à Corte Européia de Justiça contra a Fifa, caso a entidade baixe uma legislação sobre transferências de atletas tal qual está programando.

O presidente da Fifa, Gianni Infantino, já anunciou que pretende combater o poder econômico dos grandes clubes e agentes, por meio da redução do número de transações e das comissões pagas.

Algumas das mudanças estudadas são o limite de quatro contratações na janela de inverno (mais duas por motivo de lesão grave) e verificação criminal das transferências de dinheiro.

A criação de um grupo para criar as regras foi anunciada em janeiro, após um estudo da Uefa mostrar que nas cinco temporadas até 2016-17 os agentes faturaram 2,5 bilhões de libras (cerca de R$ 12,6 bilhões) em negócios na Europa. O valor é 12% a mais que o orçamento do Manchester United, o clube mais rico do mundo, no mesmo período. Supera também os 20 clubes da Série A do Brasil somados.

Por causa disso, a Uefa determinou que os clubes devem publicar em detalhes os pagamentos de comissão. No Brasil, isso é opcional. Estima-se que menos de 10% dos pagamentos são declarados.

Quando atuam numa negociação, os agentes são remunerados de várias maneiras. As principais são a comissão de intermediação do negócio, recebida do clube vendedor, e a taxa sobre o contrato entre jogador e clube, descontada do atleta.

Em geral as relações entre agentes e jogadores são estáveis e entre clube e intermediário são realizadas caso a caso. Em cada esporte a taxa de intermediação é diferente, segundo sua própria tradição. Na NFL (futebol americano), a liga com a média salarial mais alta do mundo, a comissão é de 2%.

No futebol, ela é bem mais alta. Segundo o estudo, nas transações maiores, ela fica em 9%. Nas pequenas pode chegar a 40%. Na média, fica em 13%. A Fifa queria limitar essa taxa em 3%. Os agentes pressionaram, a proposta subiu para 5%, mas não houve acordo.

Do ponto de vista da representação de atletas, o mercado ainda é muito pulverizado. É muito raro, por exemplo, que um agente tenha mais do que 2 entre os 20 jogadores mais valorizados do mundo.

Quando negociam seus principais jogadores, os agentes podem receber duplamente. Um caso que gerou escândalo foi a comissão de 41 milhões de libras (R$ 206 milhões, pelo câmbio atual) recebida pelo agente italiano Mino Raiola pela transferência do meia Paul Pogba, da Juventus para o Manchester United, em 2016.

O valor dessa comissão equivale, grosso modo, ao orçamento do Fluminense em 2017.

A questão não é o dinheiro em si, mas o poder que ele agrega aos agentes, que são contra as principais mudanças.

O português Jorge Mendes, dono da Gestifute e agente de Cristiano Ronaldo e ex de Felipão, atua não só no mercado de jogadores, como no de clubes, em vários continentes. Para convencer empresários a vender –ou a comprar– clubes, Mendes atua tanto como um financiador, quanto como fornecedor de jogadores para os novos proprietários.

Com a qualidade dos atletas cada vez mais concentrada, o dinheiro do futebol se concentra também.

O reflexo dessa situação está na Copa do Mundo. A cada Mundial, há mais atletas atuando fora do país de origem e mais jogadores atuando por seleções estrangeiras (Na Rússia, 82 em 22 seleções). Como os países periféricos, perdem jogadores cada vez mais cedo, têm mais dificuldade para formar novas gerações e completam a seleção com atletas nascidos em países centrais. Na Copa há 50 nascidos na França, em seis seleções (21 na própria equipe).

Raiola, a Gestifute e o Stellar Group, de Londres, a trinca das maiores agências, têm se reunido com frequência entre si e com Infantino e já o avisaram que, se não forem mais ouvidos, irão à Justiça. A ver.

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Após escândalo e com novo presidente, Fifa caminha para o Oriente https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/21/apos-escandalo-e-com-novo-presidente-fifa-caminha-para-o-oriente/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/21/apos-escandalo-e-com-novo-presidente-fifa-caminha-para-o-oriente/#respond Thu, 21 Jun 2018 23:07:17 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Gianni-Infantino-esq-e-o-presidente-russo-Vladimir-Putin-Hassan-Ammar-14.jun_.18-Associated-Press-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=137 O elenco de patrocinadores da Copa da Rússia mostra como a combinação da geopolítica mundial com o chamado Fifagate afastou empresas dos países do antigo “bloco ocidental” (EUA, União Européia, Canadá e Japão, especialmente) da entidade máxima do futebol. E fez a Fifa buscar novos rumos.

Várias empresas ligadas ao Ocidente ou aliados, como Emirados Árabes, saíram. Em seus lugares entraram corporações da Rússia e China e de países com interesses regionais, como o Qatar.

Grande parte das novas empresas estão ligadas apenas a esta Copa, mas algumas são “Fifa Partners”, a categoria top de patrocínio, que se aplica a todas as competições.

Pelos dados da entidade, até 2014 nunca um Fifa Partner havia deixado de renovar contrato. Desta vez, porém, dois saíram: Sony (Japão) e Emirates Airlines (Emirados Árabes). Em seus lugares, entraram Wanda (hotéis e cinemas, China), Gazprom (petróleo, Rússia) e Qatar Airlines. Como a Fifa criara duas vagas, uma ficou vazia.

As que permanecem são Coca-Cola (EUA, parceira desde 1982), Adidas (Alemanha, 1998), Hyundai (Coréia do Sul, 2002) e Visa (EUA, 2010).

Na categoria de patrocinadores da Copa, criada em 2010 (seis slots) e ampliada em 2014 (oito), a mudança foi quase completa. Saíram seis empresas como Castrol (lubrificantes, Reino Unido), Continental (pneus, Alemanha) e Johnson & Johnson (farmacêuticos e higiene, EUA) e entraram só três: Hisensi (TVs), Mengniu (laticínios) e Vivo (celulares), todas chinesas.

Só o McDonald’s (EUA) e a Budweiser (marca americana da belga AB InBev) continuaram.

A mudança de perfil tem duas causas. Com o Fifagate, alguns patrocinadores se afastaram alegando questões éticas. O segundo é a escolha, ainda em 2011, das sedes de duas Copas (Rússia-18 e Qatar-22) em países com problemas nas relações diplomáticas com o Ocidente e aliados.

A Rússia, mesmo após a queda do comunismo, nunca deixou de ser o alvo prioritário da Otan, a organização militar entre EUA e Europa. Em março, o atentado contra um ex-espião russo e sua filha em território britânico, levou o governo de Theresa May a retaliar a Rússia, com o apoio dos aliados. Antes disso, a Rússia não era bem vista pela Europa ocidental. Tanto que de nenhum país do continente partiram muitos torcedores –todos menos até que o Brasil.

O Qatar, por outro lado, busca aumentar sua influência no Oriente Médio, desafiando a liderança da Arábia Saudita, tradicional aliada dos EUA. Em junho, a Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes e Bahrein romperam relações diplomáticas com o Qatar, acusando-o de financiar o terrorismo –alguns desses países, como a Arábia Saudita, também são acusados da mesma coisa por analistas internacionais.

A China, segunda maior economia mundial, e que tenta ocupar espaços abertos pelas práticas protecionistas do presidente dos EUA, Donald Trump, tem no futebol uma das suas prioridades da diplomacia de negócios, o chamado soft power. O Qatar já faz isso há mais tempo, e a Rússia deve seguir os mesmos passos.

Ao mesmo tempo, a Fifa fragilizada pela operação do FBI e pela queda de patrocínios na Copa de 2018, encontra dificuldades não só para estancar seu déficit corrente como para cumprir a promessa eleitoral do presidente Gianni Infantino de quadruplicar os repasses para as federações nacionais.

Por isso, não deve ser surpresa se Infantino começar a se encontrar cada vez mais com políticos de países que nunca fizeram parte do centro do futebol mundial. O cartola sabe que o mundo do futebol é um excelente ambiente para diplomacia e negócios e vai usar isso para consolidar seu poder na Fifa.

 

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O capitão do Irã deve uma para a Fifa https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/21/o-capitao-do-ira-deve-uma-para-a-fifa/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/21/o-capitao-do-ira-deve-uma-para-a-fifa/#respond Thu, 21 Jun 2018 14:51:38 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Masoud-capitão-do-Irã-agradece-a-torcida-após-vitória-sobre-Marrocos-Paul-Ellis-15.jun_.18-AFP-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=135 O meia Masoud, capitão do Irã na Rússia, quase não pôde participar da Copa por motivos políticos e só foi confirmado também por pressão política –da Fifa.

Um dos maiores jogadores do Irã, Masoud, 34, é um dos poucos que atua fora de seu país. Desde os 22 atua no exterior, passando por clubes dos Emirados, Espanha, Qatar e Grécia (na próxima temporada, tem proposta para voltar à Espanha e Qatar).

Masoud participou de toda a campanha das eliminatórias. O Irã terminou invicto e foi a segunda equipe a garantir vaga para a Copa –só atrás do Brasil-, no dia 12 de junho do ano passado.

Cerca de 40 dias depois, o seu clube, o Panionios, da Grécia, teve um confronto marcado contra o Maccabi, de Tel Aviv, Israel, pela Liga Europa.

O governo de Teerã, que não tem relações diplomáticas com Israel desde logo depois da revolução de 1979 e já manifestou diversas vezes o desejo de que “o Pequeno Satã” despareça, proibiu a ele e ao zagueiro Haji Safi, seu colega de clube e seleção, de disputar a partida em Israel.

Ambos, por força de contrato, decidiram ignorar a proibição, e participaram do confronto –perderam os dois jogos por 1 a 0. Em seguida, foram oficialmente banidos da seleção e considerados traidores. Alguns dias depois, Haji Safi fez um pedido público de desculpas e foi perdoado pelo governo e reintegrado.

Masoud ficou calado e seguiu banido. Quatro meses depois, às vésperas do sorteio, a Fifa ameaçou a Federação Iraniana de tirá-la da Copa. O governo recuou e decidiu deixar a questão com o treinador Carlos Queiroz. Com o apoio do maior jogador da história do Irã, Ali Karimi, que, quando jogava era chamado de “Maradona da Ásia”, Queiroz reintegrou Masoud e deu-lhe a faixa de capitão.

Nem sempre a Fifa se comportou dessa maneira.

Em novembro de 1973, dois meses depois do golpe militar que provocou a morte do presidente eleito Salvador Allende e levou ao poder o general Augusto Pinochet, se realizou no Chile um dos jogos mais infames da história do futebol.

Chile e União Soviética disputavam um mata-mata por uma vaga na Copa de 1974, na Alemanha. O primeiro jogo havia sido em Moscou e terminara 0 a 0. O jogo de volta estava marcado para o estádio Nacional, em Santiago. Acontece que o local havia sido transformado pelo governo militar num campo de concentração, em que aconteciam torturas e mortes. O governo soviético exigiu a realização da partida em outro local. Pinochet negou as acusações.

A Fifa realizou uma pantomima de verificação, e o presidente da entidade, o inglês Stanley Rous, confirmou o local do jogo. A URSS se recusou a viajar. Num estádio lotado, com os prisioneiros colocados no subsolo, os jogadores do Chile foram a campo, trocaram passes –alguns em impedimento-, fizeram um gol, que foi validado pelo árbitro, e assim se classificaram.

A atitude de Rous foi um dos motivos que o levaram a perder a reeleição, para o brasileiro João Havelange, sete meses depois.

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Tradição da Fifa ameaça sucesso do VAR https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/18/tradicao-da-fifa-ameaca-sucesso-do-var/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/18/tradicao-da-fifa-ameaca-sucesso-do-var/#respond Mon, 18 Jun 2018 20:15:10 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Sala-de-VAR-da-Copa-Sergei-Kharpukin-12.jun_.18-Reuters-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=95 A Copa está mostrando jogos emocionantes, mas um grande astro não está correspondendo.

Anunciado como a novidade deste Mundial, a esperança de reduzir o impacto do apito no resultado, o VAR (árbitro assistente de vídeo, em tradução livre) vem tendo uma atuação irregular. Mas a responsabilidade é menos dele do que do técnico –o árbitro–, ou, melhor, de ter técnicos demais.

Quando foi acionado, o VAR fez um gol atrás do outro. Três dos sete primeiros pênaltis anotados só foram vistos pelas câmeras. O problema é que, em alguns jogos, o árbitro barrou o jovem talento em favor de um veterano: o seu próprio olho.

Um exemplo foi o gol da Suíça contra o Brasil. O árbitro mexicano poderia ter revisto o lance na TV e até ter mantido a decisão. Mas a sua recusa catapultou as críticas e fez até surgirem teorias conspiratórias –no Brasil, claro, afinal somos um pouco viciados nelas.

A causa da irregularidade do VAR é a resistência da Fifa contra retirar qualquer farpa de poder dos árbitros. Já é assim com os assistentes de linha de fundo –os tais adicionais. Usados na Uefa, eles são quase párias em campo. Nem bandeirinha podem ter. Sinalizam girando o corpo pra lá e pra cá, num balé bizarro. Nesta Copa, não foram adotados –e no lance de Gabriel Jesus teriam sido muito úteis (ou não).

No mundo da horizontalidade, das decisões colegiadas, a ideologia da arbitragem do futebol é a verticalização absoluta.

O árbitro tem a última palavra em tudo. Não só marca os lances, distribui cartões, mas controla todos os aspectos do jogo. Isso inclui autorizar a entrada e saída em campo, controlar o relógio e até quando encerrar a partida. No VAR, não só pode recusar a opinião da equipe de vídeo, como nem mesmo precisa rever o lance.

Nos outros esportes, não é assim.

No basquete, para começar, há três árbitros, com igual poder. Além disso, a mesa controla o tempo, as substituições e o número de faltas. Na NBA há árbitro de vídeo. Suas funções vêm sendo aumentadas desde 2003. Hoje ele já pode ser acionado para verficar quase 90 tipos de situação. Em grande parte delas, a consulta é obrigatória.

No futebol americano, há seis árbitros “assistentes”. Cada um tem uma função específica e tem um lenço (o equivalente à bandeirinha). Se alguém vê uma irregularidade, atira o lenço, e o jogo para. O árbitro ouve a explicação, e quase sempre segue a marcação. Quando é o caso, a ida ao árbitro de vídeo é obrigatória, mas a decisão é dele.

No tênis e no vôlei, são os times ou jogadores que chamam a revisão da marcação. No tênis, a decisão digital é soberana. No vôlei, o árbitro é que decide se revê sua marcação. Mas ele não cuida de placar, posicionamento e substituições, funções da mesa.

É claro que os esportes são diferentes no tipo de decisão, no contato físico, no número de atletas e no tamanho do campo. Mas a questão é de ideologia. Em todos os esportes, os árbitros têm responsabilidade e poder grandes. Mas só no futebol se espera que ele seja um super-homem. Antes do VAR, a última grande mudança na forma de apitar havia sido a introdução dos cartões, na Copa de 1970.

Para que a arbitragem, como qualquer forma de gestão da Justiça, seja confiável, ela precisa ser previsível, e, portanto, padronizada. Isso implica reduzir o poder do árbitro. Mas a Fifa insiste em valorizar as diferenças de personalidade dos apitadores e dar liberdade a eles.

Se essa mentalidade não mudar, o VAR corre o risco de ser um grande desperdício de esforço, dinheiro e esperança.

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Gol da Suíça expõe queda do poder da CBF dentro da Fifa https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/18/gol-da-suica-expoe-queda-do-poder-da-cbf-dentro-da-fifa/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/18/gol-da-suica-expoe-queda-do-poder-da-cbf-dentro-da-fifa/#respond Mon, 18 Jun 2018 12:01:14 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Zuber-faz-o-gol-da-Suíça-contra-o-Brasil-Marko-Djurica-17.jun_.18-Reuters-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=77 A polêmica surgida em relação ao lance que gerou o gol da Suíça deixou claro um ponto: o Brasil nunca esteve tão órfão dentro da Fifa, ao menos nos últimos 60 anos.

Desde que Ricardo Teixeira deixou a presidência da CBF, em 2012, o poder brasileiro dentro da entidade-mãe começou a cair. Depois da operação do FBI, em 27 de maio de 2015, que prendeu o ex-presidente José Maria Marin e deixou o então presidente Marco Polo Del Nero acorrentado ao Brasil, a queda se acentuou.

O recente episódio envolvendo o atual presidente, o coronel PM Antonio Nunes, na escolha da sede da Copa de 2026, rebaixou a CBF a uma entidade da periferia da bola na hierarquia política de Zurique. Para alguns virou quase um pária.

E quando acontece um problema como o deste domingo, o que fazer? Como pode reclamar a pessoa que quebrou um acordo e na última hora votou não só contra os interesses dos seus pares americanos, mas contra os da própria direção da Fifa? Como pode ser levada a sério uma pessoa que, ao justificar seu voto, parecia uma criança acuada? Como um dirigente que está sendo escondido por seus próprios subordinados na Rússia pode encaminhar uma reclamação?

E não há como pensar que isso não tem importância. Numa entidade com forte caráter político como a Fifa, todo naco de poder é importante. Como em qualquer atividade humana, a política tem peso no esporte.

Não é só por vaidade, diárias e passagens que as federações nacionais disputam todos os cargos em todas as comissões. Ricardo Teixeira nunca gostou muito de futebol, mas sempre ocupou um posto na comissão de arbitragem e por algum tempo foi seu vice-presidente.

O futebol é obviamente jogado e decidido pelos times e pelos jogadores. Menosprezar o papel de craques como Pelé, Garrincha, Romário e Ronaldo –só para falar de alguns brasileiros– é impossível. Quando não há situações-limite, só isso importa. Mas, com alguma frequência, há decisões difíceis. Os árbitros, em geral, tentam acertar sempre, mas não ignoram quais são as equipes politicamente mais fortes.

Não foi por coincidência que o Brasil ganhou as três primeiras Copas após a chegada à CBD (hoje CBF) de João Havelange, que em seguida viraria presidente da Fifa por 24 anos. Havelange não fez gol, mas não desgrudava dos poderosos, até se tornar o maior de todos –de todos os tempos.

De 1958 a 2014, foram muitos os episódios em que o Brasil foi beneficiado nos jogos e fora dele –Garrincha, o craque da Copa de 1962, só disputou a final graças a uma manobra na comissão disciplinar; em 1970, o local de uma semifinal foi mudado para atender a pedido do Brasil. Em sentido contrário, foram bem menos comuns.

A partir de 1989, esse poder se reforçou. Teixeira, que chegou à CBF como um ET, logo mostrou-se um disciplinado pupilo de Havelange. Colocava a si mesmo e a aliados brasileiros em todas as comissões que conseguia. Em 2002, em pelo menos dois jogos, os erros do árbitro beneficiaram a seleção. E não se está atribuindo as conquistas a isso, claro.

Depois de Teixeira, porém, a história mudou. É verdade que a ação do FBI, 41 dias após a posse de Marco Polo Del Nero, cortou a cadeia de passagem de poder do Brasil dentro da Fifa. De uma tacada só, Teixeira, Marin e Del Nero ficaram afastados da entidade.

Mas não há como negar que o comportamento de Marin e Del Nero foi a maior causa dessa queda. Na presidência de Marin, era Del Nero que tinha cargos na Fifa. Era mais conhecido pela idade e curvas das namoradas que levava do que pelo trabalho na entidade. O posterior sumiço dele, pelo medo de ser preso no exterior, prejudicou a CBF ainda mais.

E, para coroar, Del Nero inventou Nunes como seu sucessor temporário, apenas para impedir que um vice rebelde tomasse posse em caso de seu afastamento. E Nunes logo se revelou uma fonte quase infinita de constrangimento. E só tem piorado.

Agora, surge mais uma consequência previsível dessas decisões desastradas.

No código de honra dos jogadores, está não esperar por ajuda da arbitragem, mas ter a confiança de não serem prejudicados. Para que os brasileiros se preocupem apenas em jogar bola, eles precisam acreditar que suas costas estão protegidas.

Pela primeira vez em muitas Copas, isso pode não estar acontecendo.

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