Marcelo Damato https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br A paixão, o dinheiro e o poder que envolvem a Copa. E um pouquinho de bola... Sun, 15 Jul 2018 17:25:28 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Final da Copa pode ter árbitro holandês https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/11/final-da-copa-pode-ter-arbitro-holandes/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/07/11/final-da-copa-pode-ter-arbitro-holandes/#respond Wed, 11 Jul 2018 17:36:43 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/O-holandês-Björn-Kuipers-durante-o-jogo-Brasil-x-Costa-Rica-Gabriel-Bouys-22.jun18-AFP-e1531330060323-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=402 Pela tradição da Fifa, o holandês Björn Kuipers é o favorito para apitar a final da Copa, no domingo. Kuipers, que está em seu segundo Mundial, tem sido prestigiado nas escalas desde o segundo dia e tem sido bem avaliado.

Na Rússia, apenas dois árbitros foram escalados quatro vezes, Kuipers e Nestor Pitana (ARG), que está descartado para final porque dirigiu a partida de abertura. (atualização: quebrando sua própria tradição, a Fifa escalou Pitana. É apenas a segunda vez em 21 Copas que um árbitro apita abertura e final)

Os dois têm um temperamento parecido, são calmos e sorriem durante quase toda a partida. O temperamento, aliás, é parecido com o do diretor de arbitragem da Fifa, o italiano Pierluigi Collina, que dirigiu a final da Copa do Mundo de 2002.

Kuipers é um dos principais árbitros europeus. Já dirigiu final da Liga dos Campeões de 2014 (em 63 decisões, só houve uma repetição de escala, em 1968 e 1970). Dirigiu duas finais de Liga Europa (2013 e 2018), sendo o segundo a atingir tal feito desde que as finais são em jogo único e o primeiro no século. Sua primeira final de uma competição da Fifa ocorreu no ano passado, com a decisão do Mundial sub-20, vencido pela Inglaterra.

Em Copas, sempre foi escalado para jogos importantes. Nos seus sete jogos, incluindo três da Copa no Brasil, havia ao menos uma seleção campeã mundial em campo. No terceiro dia da Copa de 2014, dirigiu o jogo de abertura do Grupo D, o “grupo da morte”, opondo as campeãs Itália e Inglaterra. A partida era considerada delicada também pelo calor previsto para a hora do jogo.

Na Rússia, Kuiper dirigiu Uruguai 1×0 Egito, na primeira rodada, Brasil 2×0 Costa Rica, na segunda, Rússia 1×1 Espanha, nas oitavas, e Inglaterra 2×0 Suécia, nas quartas.

No jogo do Brasil, foi o primeiro árbitro da Copa a cancelar a marcação de um pênaltin–sobre Neymar– depois de consultar o VAR.

Depois dele, um dos árbitros com mais chances é Sandro Meira Ricci, do Brasil. O brasileiro é um dos que já atuou três vezes e trabalhou nas quartas-de-final. O sérvio Milorad Mazic, que apitou a decisão da última Liga dos Campeões, completa a escala da terceira fase junto com Pitana.

Das últimas sete Copas, em quatro o árbitro da final também apitou nas quartas-de-final. Em nenhuma, quem apitou uma semifinal chegou ao último dia. Na França-98, o escalado nem havia trabalhado no mata-mata.

A última vez que um brasileiro apitou uma decisão foi em 1986, com o Romualdo Arpi Filho. Quatro anos antes, Arnaldo Cesar Coelho, hoje comentarista da Globo, foi o primeiro brasileiro a alcançar o jogo máximo do futebol mundial.

 

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E o complô virou ‘empurrão muito leve’ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/30/e-o-complo-virou-empurrao-muito-leve/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/30/e-o-complo-virou-empurrao-muito-leve/#respond Sat, 30 Jun 2018 03:24:33 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Zuber-da-Suíça-faz-gol-de-empate-contra-o-Brasil-Jason-Cairnduff-17.jun_.18-Reuters-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=263 Assim que terminou o empate entre Brasil e Suíça, as redes sociais explodiram:

“Há (mais) um complô para tentar impedir o Brasil de conquistar o hexa!”

Em minutos, parentes e amigos de profissões que variavam de professor universitário a delegado da Polícia Federal inundaram o meu zap –e milhares de outros– com duas certezas. Não apenas a seleção brasileira fora prejudicada –tanto no lance do gol da Suíça, como no suposto empurrão sofrido por Gabriel Jesus–, como aquilo fora feito de forma intencional.

Lendo as mensagens com mais cuidado, se verificava que o complô era, de fato, vários.

1) O árbitro era mexicano e estava querendo se vingar porque a CBF votara na candidatura do Marrocos para a Copa de 2026, vencida pelo México, ao lado de EUA e Canadá.

2) O presidente da Fifa, Gianni Infantino, havia ligado para a sala do VAR e proibido o uso do equipamento naquele lance, em retaliação contra aquele mesmo voto, proferido pelo Coronel Nunes.

3) A Fifa não quer mais um título do Brasil porque isso faria os torcedores perderem interesse na Copa (essa é bem tradicional, repetida desde a Copa de 1998, antes da conquista do penta).

4) A Copa é na Europa, e os europeus não vão aceitar mais um título de seleções de outro continente. Já basta o de 1958 (essa é a mais antiga, vem pelo menos desde 1974).

Obviamente quem pensa nisso não se lembra que os brasileiros são a segunda maior delegação de torcedores na Rússia (atrás dos EUA). E nem que, se acúmulo de títulos fosse um problemaço para o negócio do futebol, o Real Madrid não seria tri da Liga dos Campeões.

E é igualmente evidente que quem vê um conspiração sempre desmerece a inteligência do conspirador –seria muito mais fácil eliminar o Brasil num jogo de mata-mata, único e com adversário mais forte, do que na fase de grupos e com três adversários inferiores.

E, quando veio o segundo jogo, e o pênalti inicialmente marcado sobre Neymar foi anulado com ajuda do VAR, ninguém mais se lembrava qual era a conspiração que valia, só que havia uma.

Chegou-se a dizer que os árbitros estavam desmoralizados, que o VAR tinha virado o poder supremo. Ué, mas a reclamação no primeiro jogo não era justamente o contrário, de que o árbitro ignorara o VAR e decidira sozinho?

Se você se impresssionou com essa contradição, para os teóricos da conspiração não faz a menor diferença. O importante é manter o foco no inimigo –seja qual for.

Nesta sexta, a Fifa divulgou o áudio da conversa entre o pessoal do VAR e o tal arbitro mexicano no lance do gol suíço. Concluem que o empurrão sobre o zagueiro Miranda foi “muito leve”. Por isso, o árbitro nem se deu ao trabalho de ir àquele reservado com monitor que lembra uma espécie de lavabo ao ar livre.

Era fácil rebater essa gravação. Afinal, o que garante que aquilo não foi fabricado depois, que na verdade é mais uma prova de que estão perseguindo o Brasil?

Mas, como a seleção ganhou bem o terceiro jogo, ninguém nem prestou atenção na explicação. Nem quis rebater. Com a classificação para as oitavas, as conspirações evaporaram.

Até a próxima derrota.

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O VAR veio para ficar https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/28/o-var-veio-para-ficar/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/28/o-var-veio-para-ficar/#respond Fri, 29 Jun 2018 00:36:26 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/O-árbitro-Mark-Geiger-usa-o-VAR-no-jogo-Alemanha-x-Coreia-do-Sul-Thanassis-Stravakis-27.jun_.28-AP-150x150.jpeg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=254 De repente, o VAR virou vilão. Não se condena só a maneira como é usado, mas a tecnologia em si. Segundo duas colunas publicadas aqui na Folha nos últimos dias, ele tem defeitos insanáveis. A melhor solução é acabar com a revisão de jogadas em vídeo.

Alguns pontos são de fato importantes. O VAR não reduziu as polêmicas de forma significativa –-ao menos no Brasil. O VAR criou uma nova etapa de insatisfação, já que não haveria sentido em buscar justiça no futebol.  O VAR complicou o jogo.

O caso faz lembrar uma história.

No fim dos anos 60, alguns médicos decidiram fazer transplantes de coração. Cada cirurgia custava uma casa, e o paciente ganhava alguns meses de vida –-ou dias ou horas.. As críticas eram imensas: brincar de Deus, exibicionismo, desperdiçar recursos, causar sofrimento desnecessário. Quem viveu na época sabe o tamanho da rejeição a essa técnica.

Cinco décadas depois, a cirurgia custa um carro, e a sobrevida com frequência é superior a uma década –sem falar em dezenas de tipos de cirurgia, mais baratas e menos invasivas, que surgiram em decorrência dessa. O que teria acontecido se essa cirurgia tivesse sido barrada? Quase todo mundo teria um parente ou amigo a menos.

De volta ao futebol.

Para começar, há uma outra tecnologia apoiando a arbitragem nesta Copa, a que mede se a bola passou da linha do gol. Ela não existe nem no Brasileiro da Série A, C ou na pelada. Para piorar, só os seus criadores conhecem seu funcionamento em detalhes.

Os dirigentes, jogadores e torcedores apenas acreditam na sua eficiência. Acreditam. Não há outra palavra para isso. E há zero polêmica até ninguém sabe como reclamar disso. E isso não faz o futebol menos popular.

O procedimento cria uma etapa a mais de frustração. E por que isso não acontece nos outros esportes? Deve acontecer, mas isso é encarado com mais naturalidade.

O VAR obviamente não resolve todos os problemas nem é perfeito na execução –assim como o transplante do coração. Ainda assim, o problema não está nele, mas na expectativa e na operação.

Mas o que realmente importa são outras questões.

A tecnologia, ainda que de mãos atadas, já existe. Há décadas os torcedores e jornalistas veem o lance no replay. E os jogadores são avisados logo em seguida. O excesso de erros é que fez a arbitragem perder a credibilidade –inclusive porque não podia usá-lo. Até que encontrem solução melhor, o VAR é necessário para reduzir esses erros. Reduzir.

Há mais acertos ou erros provocados pelo uso da tecnologia? Seja para marcar pênaltis, seja para desmarcá-los, seja para confirmar ou marcar impedimentos, os acertos são muito maiores. E não há muito como ser diferente.

O uso do chamado “instant replay” –-o nome genérico– é adotado em várias formas por dezenas de esportes. São os casos do futebol americano, beisebol, basquete, vôlei, handebol, tênis, rúgbi, hóquei, críquete, esgrima… Essa tecnologia é usada há mais de 50 anos. Em vários houve resistência, que passou.

Mas o principal ponto é que não há mais como voltar atrás. Em 15 dias, o VAR com poderes já se incorporou à cultura do futebol. Com ou sem ele, os árbitros serão mais cobrados. Para quem duvida, é só esperar a volta do Brasileiro. A partir do 16 será pior.

O grande desafio da arbitragem é a credibilidade. E para consegui-la é necessário padronizar os critérios, que atos semelhantes sejam julgados de uma forma parecida. E o VAR não atrapalha nisso, ao contrário, ajuda.

O VAR pode e deve evoluir. Talvez os árbitros pudessem um tipo de óculos de realidade aumentada, vendo imagens mais rápido. As decisões deveriam gerar jurisprudência. Deveria haver mais transparência. Mas o mais necessário é ter calma.

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Copa do VAR está virando várzea https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/26/copa-do-var-esta-virando-varzea/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/26/copa-do-var-esta-virando-varzea/#respond Tue, 26 Jun 2018 08:08:20 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Sérvia-x-Suíça-Lichtsteiner-e-xxxx-agarram-Mitrovic--150x150.jpeg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=193 O VAR, a novidade da Copa, para reduzir os erros de arbitragem e as cenas de reclamação no gramado, está indo bem no primeiro objetivo, mas é um fracasso retumbante e crescente no segundo.

Quem criou o VAR deve ter imaginado um cenário de NFL. Quando é chamado o VAR, os jogadores aguardam pacientemente a revisão e depois festejam ou lamentam o resultado. Nenhum daqueles gigantes, que chegam a pesar 160 kg e medir 2,05 metros de altura, ousa mover um dedo em relação aos homens de boné.

Só que os bacanas da Fifa se esqueceram de dois pontos essenciais: com a novidade, iria cair, como caiu, a tolerância para com os erros –uma coisa é um jogo conduzido por olhos humanos, outra é ter ajuda de dezenas de câmeras–; e a própria cultura do futebol, em que a reclamação não só é muito presente, como vem crescendo.

Profissionais de futebol são de longe os atletas que mais contestam a arbitragem em todo o planeta. Mesmo em esportes em que os bate-bocas entre técnicos e árbitros já foram em alguma época quase uma atração, como o beisebol da MLB, o habito de contestar as marcações não se compara ao futebol.

No esporte da Copa, jogadores, reservas, treinadores, cartolas e até os gandulas tentam tirar uma casquinha do árbitro, sempre que possível.

Para piorar, por aparentes desrespeitos ao protocolo do VAR, foram cometidos erros grosseiros. O principal caso ocorreu na partida entre Sérvia e Suíça, na última sexta-feira. Num cruzamento, o atacante Mitrovic foi agarrado fora ao mesmo tempo por dois suíços, Lichtsteiner e Ljajic, e forçado a ir para o chão, num lance que lembrou mais rúgbi ou futebol americano. Outro lance notório foi um pênalti sobre o inglês Harry Kane diante da Tunísia. Nenhum dos dois foi marcado.

O VAR não foi usado nos lances, e a Fifa até agora ignora o protesto dos sérvios.

E esse não é o único problema. Os árbitros estão sendo aconselhados a não interromper jogadas duvidosas e deixar o VAR resolver depois. Até a marcação de impedimentos estão sendo jogada nas costas do quarteto que fica na salinha.

Com a soma desses fatores, a Copa está virando uma várzea. Nunca houve um Mundial em que os árbitros fossem tão cercados como este. Se, na primeira rodada, os apitadores até conseguiram afastar os jogadores e mostrar autoridade, nos últimos dias, a pressão chegou perto do contato físico.

No jogo entre Portugal e Irã, na última segunda-feira, os ânimos estavam exaltados quase desde o começo. Dedo na cara do árbitro era cena quase comum. Com dois pênaltis e um lance passível de expulsão detectados pelo VAR, as paralisações viravam cenas quase cômicas. A cada parada, os jogadores do time que poderia ser beneficiado buscavam abrir o caminho do juiz até o monitor, enquanto os do outro o cercavam, como crianças diante da mãe, com medo de que ela descobrisse que o vaso da vovó tinha virado caco.

E no final o efeito nem foi tão grande. Dos dois pênaltis, um foi convertido. E a suposta agressão de Cristino Ronaldo a Pouraliganji lhe rendeu um econômico cartão amarelo.

Se essa pressão aconteceu numa partida em que mal e mal estava em disputa uma vaga –o Irã precisava vencer e ficou a maior parte do jogo atrás no marcador–, imagina-se o que pode ocorrer quando chegarem as quartas, semis e final.

A Fifa precisa agir e rápido.

O comando da arbitragem e da Fifa teria uma solução simples para reduzir o problema: punir, com amarelos e vermelhos, todo mundo que se excede. Isso aliás está na regra.

Mas não vai acontecer. Se isso fosse executado, em primeiro lugar um monte de partidas não terminaria. E jogadores, treinadores, cartolas e até jornalistas pressionariam tanto que não seria difícil o próprio presidente da federação ficar ameaçado.

A estratégia da Fifa parece esperar que a situação saia de controle para aplicar suas regras com menos resistência.

Hoje tem mais jogos decisivos.

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E o VAR tirou o Oscar de Neymar https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/22/e-o-var-tirou-o-oscar-de-neymar/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/22/e-o-var-tirou-o-oscar-de-neymar/#respond Fri, 22 Jun 2018 14:30:53 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Neymar-se-atira-e-pede-pênalti-Michael-Sonn-22.jun18-Associated-Press-150x150.jpeg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=152 É preciso reconhecer. Se há algo em que o fenomenal Neymar é realmente excepcional, é decididamente na simulação.

Desde os primeiros anos no Santos, Neymar é um mestre na arte de iludir os olhos. Sua percepção espaço-temporal é quase sobrenatural. Sua coordenação motora ultrafina para adaptar o seu próprio movimento ao do seu adversário é algo quase divino.

Ou demoníaco. Porque simulação não faz parte do jogo.  A trapaça vai contra o próprio espírito do futebol.

Se sua habilidade com a bola encanta os amantes do esporte no mundo inteiro, sua insistência em se atirar irrita não só os adversários e os árbitros, e também os torcedores. Esse misto de encanto e raiva, em mãos hábeis, vira meme, vira piada.

Nesta Copa, surgiram a cabra do Neymar, o cachorro do Neymar, o pebolim do Neymar, a avó do Neymar e até o irmão preso do Neymar. Todos se atirando rolando no chão, sem que ninguém os toque.

Se Neymar será algum dia o melhor jogador do mundo, não se sabe. O que é certo é que ele é o maior cai-cai de todos os tempos.

Mas seus dias como o maior ator dos gramados estão contados. Neymar pode enganar os olhos humanos, mas não as lentes “varianas”.

O VAR acabou com uma das duas genialidades de Neymar. Agora ele vai ter de se contentar em apenas jogar futebol.

Vai ser difícil. Mas confiamos que ele vai conseguir.

(e não é que ele já fez um gol?)

 

Em tempo: é óbvio que não foi pênalti (uma mãozinha daquelas não segura nem a mim), como não tinha sido pênalti no Gabriel Jesus. No Miranda, foi falta, mas nesta Copa não estão marcando esse tipo de lance.

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Tradição da Fifa ameaça sucesso do VAR https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/18/tradicao-da-fifa-ameaca-sucesso-do-var/ https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/2018/06/18/tradicao-da-fifa-ameaca-sucesso-do-var/#respond Mon, 18 Jun 2018 20:15:10 +0000 https://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Sala-de-VAR-da-Copa-Sergei-Kharpukin-12.jun_.18-Reuters-150x150.jpg http://marcelodamato.blogfolha.uol.com.br/?p=95 A Copa está mostrando jogos emocionantes, mas um grande astro não está correspondendo.

Anunciado como a novidade deste Mundial, a esperança de reduzir o impacto do apito no resultado, o VAR (árbitro assistente de vídeo, em tradução livre) vem tendo uma atuação irregular. Mas a responsabilidade é menos dele do que do técnico –o árbitro–, ou, melhor, de ter técnicos demais.

Quando foi acionado, o VAR fez um gol atrás do outro. Três dos sete primeiros pênaltis anotados só foram vistos pelas câmeras. O problema é que, em alguns jogos, o árbitro barrou o jovem talento em favor de um veterano: o seu próprio olho.

Um exemplo foi o gol da Suíça contra o Brasil. O árbitro mexicano poderia ter revisto o lance na TV e até ter mantido a decisão. Mas a sua recusa catapultou as críticas e fez até surgirem teorias conspiratórias –no Brasil, claro, afinal somos um pouco viciados nelas.

A causa da irregularidade do VAR é a resistência da Fifa contra retirar qualquer farpa de poder dos árbitros. Já é assim com os assistentes de linha de fundo –os tais adicionais. Usados na Uefa, eles são quase párias em campo. Nem bandeirinha podem ter. Sinalizam girando o corpo pra lá e pra cá, num balé bizarro. Nesta Copa, não foram adotados –e no lance de Gabriel Jesus teriam sido muito úteis (ou não).

No mundo da horizontalidade, das decisões colegiadas, a ideologia da arbitragem do futebol é a verticalização absoluta.

O árbitro tem a última palavra em tudo. Não só marca os lances, distribui cartões, mas controla todos os aspectos do jogo. Isso inclui autorizar a entrada e saída em campo, controlar o relógio e até quando encerrar a partida. No VAR, não só pode recusar a opinião da equipe de vídeo, como nem mesmo precisa rever o lance.

Nos outros esportes, não é assim.

No basquete, para começar, há três árbitros, com igual poder. Além disso, a mesa controla o tempo, as substituições e o número de faltas. Na NBA há árbitro de vídeo. Suas funções vêm sendo aumentadas desde 2003. Hoje ele já pode ser acionado para verficar quase 90 tipos de situação. Em grande parte delas, a consulta é obrigatória.

No futebol americano, há seis árbitros “assistentes”. Cada um tem uma função específica e tem um lenço (o equivalente à bandeirinha). Se alguém vê uma irregularidade, atira o lenço, e o jogo para. O árbitro ouve a explicação, e quase sempre segue a marcação. Quando é o caso, a ida ao árbitro de vídeo é obrigatória, mas a decisão é dele.

No tênis e no vôlei, são os times ou jogadores que chamam a revisão da marcação. No tênis, a decisão digital é soberana. No vôlei, o árbitro é que decide se revê sua marcação. Mas ele não cuida de placar, posicionamento e substituições, funções da mesa.

É claro que os esportes são diferentes no tipo de decisão, no contato físico, no número de atletas e no tamanho do campo. Mas a questão é de ideologia. Em todos os esportes, os árbitros têm responsabilidade e poder grandes. Mas só no futebol se espera que ele seja um super-homem. Antes do VAR, a última grande mudança na forma de apitar havia sido a introdução dos cartões, na Copa de 1970.

Para que a arbitragem, como qualquer forma de gestão da Justiça, seja confiável, ela precisa ser previsível, e, portanto, padronizada. Isso implica reduzir o poder do árbitro. Mas a Fifa insiste em valorizar as diferenças de personalidade dos apitadores e dar liberdade a eles.

Se essa mentalidade não mudar, o VAR corre o risco de ser um grande desperdício de esforço, dinheiro e esperança.

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