Neymar Ibrahimovic Júnior

“Não se pode exigir que Neymar se comporte como a gente espera que ele faça.”

Essa frase nos martelou durante toda a Copa. Foi dita a todos os que cobravam que o astro brasileiro encenasse menos e pensasse mais no time. E se preocupasse mais com o efeito das suas ações sobre as crianças.

O significado era um, viraram dois. Neymar não apenas não é um modelo fora de campo, como não é o salvador do Brasil dentro dele. Hoje está mais para quem o frustra. Fora e dentro.

Quando surgiu, Neymar encheu os sonhos dos brasileiros. Sua habilidade em algumas coisas superior à Pelé nos fez acreditar em tempos de vitória, de fantasia.

Só que a diferença entre potencial e eficiência é a mesma que entre sonho e realidade. Nesta Copa em vez de resolver problemas, Neymar os criou. E já há quem tenha desistido dele, querendo-o fora da seleção.

Olhando para o Mundial, surgiu um possível novo caminho: a Suécia. Por três Copas, Ibrahimovic foi o Deus sueco, um Deus debochado e exigente. Sua seleção chegou uma vez às oitavas e ficou fora em 2010 e 2014. Sem ele, foi às quartas, três degraus acima.

Nos 12 anos de 2005 a 2016, Ibrahimovic foi o jogador do ano na Suécia 11 vezes. Ganhou o Puskas de gol mais belo do mundo e mais dezenas de prêmios individuais. Mas suas conquistas com times são mais modestas. Apenas um título europeu, uma Liga Europa.

Enquanto a seleção sueca viveu em torno do seu brilho, afundou. Fascinados com seu potencial, e temerosos da sua popularidade, nenhum técnico o barrou. Mas, quando saiu, ninguém lhe deu a mão para voltar.

À parte dos temperamentos falastrão e debochado do sueco e malandro e choramingas do brasileiro, Ibrahimovic e Neymar têm mais em comum do que parece.

Duvida? Faça um teste. Veja esses fatos e diga quais deles casam mais com a visão que você tem de cada um.

— Quando tinha um ano de carreira, recusou-se a fazer um teste num dos maiores clubes da Europa, pois se julgava bom demais para isso.

— Comparou-se a uma Ferrari.

— Sentou na capota de uma Ferrari.

— Machucou-se no confronto mais importante e foi se recuperar longe do clube, mesmo sendo o líder do time. Nem foi para a festa de um título.

— Jogou uma final importante já acertado secretamente com o adversário.

— Deixou o clube onde havia sido um sonho de infância jogar pela porta dos fundos. E sem se despedir da torcida.

— Dos clubes de onde saiu, não só não mostrou mais carinho pela torcida, como flertou com seus rivais.

— Chegou a um novo clube e quis mandar até no técnico.

— Organizou uma festa luxuosa com os companheiros, em que a estrela era ele mesmo.

Os dois primeiros são de Ibrahimovic. Os três últimos são de ambos.

Neymar está indo por esse caminho. Em 2010, o país pediu por ele. Em 2014, jogou em equipe até se machucar de verdade. Em 2018, foi o que todos viram. Mas, aos 26 anos, ainda tem uma chance.

A seleção já teve outros Neymares. Um conseguiu mudar. E também surgiu num período de seca. Até 1992, Romário criou tanta confusão que foi barrado. Voltou no fim de 1993, enquadrado. Convenceu-se de que poderia ser a estrela, mas não o dono do time. Submeteu-se, brilhou e ajudou o Brasil a conquistar o tetra. Desse modo, foi o melhor do mundo. Depois, consagrado, voltou para o Brasil e fez o que quis.

Neymar tem quatro anos para aprender o exemplo. Porque, além de tudo, o Brasil não é a Suécia.