Lateral direita é sinônimo de encrenca e surpresa para o Brasil em Copas

A lesão de Danilo confirma uma sinistra tradição da seleção em Copas. A lateral direita é uma das posições mais abaladas por contusões.

Embora tenha havido um período de tranquilidade nos quatros Mundiais entre 2002 e 2014, a tradição é de acidentes. Desde 1958, houve pelo menos nove lesões graves em jogadores da posição às vésperas da Copa ou durante a competição. Somadas à desistência do então titular Leandro em 1986, são dez alterações inesperadas.

Apesar disso, em algumas vezes, o substituto não só jogou acima da expectativa como superou o titular –como aliás tem acontecido com Fágner na Rússia até aqui. Nas duas vezes em que houve uma troca na final, o Brasil foi campeão. Em todas as outras, a seleção voltou sem taça. Mas não houve caso anterior de o problema acontecer durante a Copa com o reserva.

Em 1958, De Sordi foi o titular nos cinco primeiros jogos. Na semifinal, sentiu uma lesão e não disputou a final. Djalma Santos entrou em seu lugar e o Brasil foi campeão. O novo titular acabaria eleito o melhor da posição da Copa mesmo atuando uma vez.

Em 1974, Carlos Alberto (que anos depois ganharia o “Torres” ao nome para diferenciá-lo de um homônimo), capitão do tri, era titularíssimo para a Copa de 1974, quando sofreu uma lesão e foi barrado da Copa. O corintiano Zé Maria passou a titular e Nelinho, do Cruzeiro, entrou como reserva.

Na fase de preparação, Zé Maria também se machucou. Nelinho foi titular nos três primeiro jogos, indo para o banco nos seguintes.

Quatro anos mais tarde, Zé Maria era de novo o titular, quando torceu o joelho direito. O caso era mais sério, ele foi cortado da delegação e nem chegou a ser inscrito. O reserva Toninho virou titular e Nelinho de novo foi convocado, tendo ganhado a posição ao longo dos jogos.

Em 1986, o lateral-direito Leandro, que já tinha sido o titular em 1982, abandonou a seleção no dia do embarque para o México, depois que Renato Gaúcho, hoje técnico do Grêmio, foi cortado por chegar atrasado à concentração depois de uma folga. Como Leandro tinha ido junto, saiu em solidariedade ao companheiro. Edson, que era o reserva, passou a titular, e Josimar foi convocado.

Numa coincidência bizarra, já que ambos jogavam no Corinthians, ocorreu a Edson o mesmo que a Zé Maria em 1974. Pouco tempo depois de virar titular, também se machucou –no seu caso durante a disputa– e cedeu a posição a Josimar. E o botafoguense não saiu mais. Josimar fez golaços de fora da área em dois jogos seguidos e se tornou uma estrela daquela competição.

A lesão seguinte ocorreu em 1994. Jorginho que disputara o Mundial de 1990 e repetia a dose nos EUA, se machucou no início da final contra a Itália. Teve de ceder o gosto de comemorar o título em campo a Cafu, que foi o titular pelas três Copas seguintes, sem jamais se lesionar, um recorde na seleção.

Mas, se Cafu não se lesionou em 1998, seu reserva sim. Como naquela época eram convocados 22 e não os atuais 23 jogadores, e já havia três goleiros, toda seleção tinha uma posição sem um reserva imediato. Para aquele Mundial, Zagallo chamou Flávio Conceição como reserva do volante César Sampaio e de Cafu. Só que o reserva dublê se machucou dias antes da apresentação, pelo La Coruña (ESP). Em seu lugar, chegou o lateral Zé Carlos, que enfrentou a Holanda, porque Cafu estava suspenso.

Entre 2002 e 2014, houve quatro Copas sem nenhum percalço, exceto a troca de Daniel Alves por Maicon como titular durante a disputa no Brasil. Mas a razão foi técnica.

Até que neste Mundial, pela primeira vez, houve três acidentes, dois graves. Em maio, poucos dias antes da convocação, Daniel Alves, titular e capitão da seleção teve uma entorse grave no joelho direito pelo PSG e ficou fora da Copa. Tite convocou Danilo e Fagner sem indicar quem seria o titular. Danilo fez o primeiro jogo e se machucou na região do quadril. Fagner entrou e foi melhor que o colega. Quando Danilo já estava recuperado, ocorreu a torção no tornozelo esquerdo.

Sem possibilidade de trocar, Fagner tem que passar um dos próximos dois jogos sem levar cartão amarelo.