Argentinos ‘bagunçam’ a Copa da Fifa

Começou a Copa do Mundo dos argentinos. Se a Copa da Fifa é um símbolo do século do século 21, tecnológica, organizada e alegre, a Copa dos argentinos é diferente. A torcida, os ídolos e o time parecem funcionar no modo anos 90, mais caótica, menos eficiente e muito mais apaixonada.

E agora, após passar pela Nigéria, o espírito argentino esquentou “de vez” –pelo menos até sábado.

Maradona mostra tapete com sua imagem no estádio antes do jogo Argentina x Nigéria (Paul Ellis – 26.jun.18/AFP)

Na arquibancada, o símbolo desse misto de paixão e bagunça –com uma pitada de farsa– é o ex-jogador Diego Maradona. No primeiro jogo, fumou um charuto, o que é proibido. No segundo, urrou contra o próprio time.

No terceiro e decisivo contra a Croácia, roubou o show. Usou dois relógios de pulso –outra vez– e uma camiseta com seu tradicional patrocinador de uniforme. E gritou, urrou, chorou, sorriu, xingou, mostrou o dedo e até cochilou durante o jogo.

Recebeu uma homenagem de torcedores, pousou para fotos de centenas de fãs, bateu boca feio com alguns e até passou mal no final, tendo de receber tratamento médico.

Oficialmente, Maradona está na Copa a convite da Fifa, que lhe paga, segundo jornalistas ingleses, 10 mil dólares por dia. E cumpriu seu papel. Enlouqueceu seus fãs, que tudo lhe perdoam, e irritou seus haters.

Mascherano com o supercílio aberto e camisa manchada de sangue (Giuseppe Cacace- 26.jun.18/AFP)

Dentro de campo, o espírito não está em Messi, Dybala ou Aguero, seus maiores talentos, mas no volante Mascherano. “El Jefito”, aos 34 anos, já está em fim de carreira. Não atua mais no Barcelona, foi exilado para a China.

Na seleção, porém, ele é o capitão. Com o respaldo da torcida, Masche pode dizer e fazer quase o que quiser.

Nesse jogo, até o experiente árbitro turco Cuneyt Çakir, teve de se dobrar. Juiz da final do Mundial de Clubes de 2012 –aquela–, de uma semifinal da Copa do Mundo de 2014 -–a outra– e da Liga dos Campeões de 2015, não foi páreo para o ex-jogador do Barcelona.

No segundo tempo, Mascherano levou um golpe no supercílio esquerdo, que passou a sangrar e até manchou sua camiseta. A regra o obrigava a sair e se tratar. Mas o jogo estava tenso, a Argentina empatava, e El Jefito ficou até o fim. E Çakir se fingiu de morto.

O técnico argentino Jorge Sampaoli, já sem blazer, grita desperado durante a derrota para a Croácia (Petr David Josek – 21.jun.18/AP)

Num ambiente assim, a hierarquia não vale muito. Após o segundo jogo e diante da ameaça de eliminação, os jogadores, liderados por Mascherano, simplesmente atropelaram o técnico Jorge Sampaoli e decidiram a equipe do terceiro jogo.

O treinador, que chegara com moral por seu trabalho com a seleção do Chile, perdeu-se no comando da Argentina no Mundial. A cada jogo, mudou de time, de estilo e, sintomaticamente, até o estilo da roupa. Na derrota para a Croácia, seu desespero era evidente. Como num enredo de filme B, após o segundo gol do rival, tirou o blazer e ficou de camiseta. No terceiro jogo, já era um fantasma. Ao apito final, foi para o vestiário sem falar com ninguém.

Torcedor após derrota para a Croacia no estádio em Nizhny Novgorod Copa 2018 (Dimitar Dilkoff – 21.jun.18/AFP)

Nesse caldeirão de emoções, a torcida também tem um papel central. Em São Petersburgo, os torcedores não ligaram para a ameaça de eliminação e ficavam em centenas na porta do hotel da seleção, cantando e incentivando.

Todos os dias centenas de torcedores fazem grandes desfiles pela cidade mostrando amor pela seleção. Agora, com a classificação, a manifestações devem crescer.

Torcedores argentinos vivem e dormem em carros na praia de Copacabana dirante a Copa do Mundo de 2014 (Eduardo Anizelli – Jun.14/Folhapress)

E isso não é novo. Os argentinos repetiram o que haviam feito no Brasil, em 2014. Chegaram às dezenas de milhares, por todo tipo de transporte, especialmente em carros, motorhomes e ônibus, muitos dele caindo aos pedaços.  Ocuparam todas as sedes da Copa, especialmente São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde a seleção argentina ficou concentrada. Dormiam em carros, barracas e ônibus, tanto emm bolsões como simplesmente na rua. A grande maioria dos torcedores veio sem ingresso, só para sentir a Copa de perto.

Alguns torcedores vieram de carona, desde a Patagônia.

No Brasil, a viagem de volta foi apenas na noite após a final. Desta vez, pode ser a qualquer momento, a partir de domingo.