O capitão do Irã deve uma para a Fifa

O meia Masoud, capitão do Irã na Rússia, quase não pôde participar da Copa por motivos políticos e só foi confirmado também por pressão política –da Fifa.

Um dos maiores jogadores do Irã, Masoud, 34, é um dos poucos que atua fora de seu país. Desde os 22 atua no exterior, passando por clubes dos Emirados, Espanha, Qatar e Grécia (na próxima temporada, tem proposta para voltar à Espanha e Qatar).

Masoud participou de toda a campanha das eliminatórias. O Irã terminou invicto e foi a segunda equipe a garantir vaga para a Copa –só atrás do Brasil-, no dia 12 de junho do ano passado.

Cerca de 40 dias depois, o seu clube, o Panionios, da Grécia, teve um confronto marcado contra o Maccabi, de Tel Aviv, Israel, pela Liga Europa.

O governo de Teerã, que não tem relações diplomáticas com Israel desde logo depois da revolução de 1979 e já manifestou diversas vezes o desejo de que “o Pequeno Satã” despareça, proibiu a ele e ao zagueiro Haji Safi, seu colega de clube e seleção, de disputar a partida em Israel.

Ambos, por força de contrato, decidiram ignorar a proibição, e participaram do confronto –perderam os dois jogos por 1 a 0. Em seguida, foram oficialmente banidos da seleção e considerados traidores. Alguns dias depois, Haji Safi fez um pedido público de desculpas e foi perdoado pelo governo e reintegrado.

Masoud ficou calado e seguiu banido. Quatro meses depois, às vésperas do sorteio, a Fifa ameaçou a Federação Iraniana de tirá-la da Copa. O governo recuou e decidiu deixar a questão com o treinador Carlos Queiroz. Com o apoio do maior jogador da história do Irã, Ali Karimi, que, quando jogava era chamado de “Maradona da Ásia”, Queiroz reintegrou Masoud e deu-lhe a faixa de capitão.

Nem sempre a Fifa se comportou dessa maneira.

Em novembro de 1973, dois meses depois do golpe militar que provocou a morte do presidente eleito Salvador Allende e levou ao poder o general Augusto Pinochet, se realizou no Chile um dos jogos mais infames da história do futebol.

Chile e União Soviética disputavam um mata-mata por uma vaga na Copa de 1974, na Alemanha. O primeiro jogo havia sido em Moscou e terminara 0 a 0. O jogo de volta estava marcado para o estádio Nacional, em Santiago. Acontece que o local havia sido transformado pelo governo militar num campo de concentração, em que aconteciam torturas e mortes. O governo soviético exigiu a realização da partida em outro local. Pinochet negou as acusações.

A Fifa realizou uma pantomima de verificação, e o presidente da entidade, o inglês Stanley Rous, confirmou o local do jogo. A URSS se recusou a viajar. Num estádio lotado, com os prisioneiros colocados no subsolo, os jogadores do Chile foram a campo, trocaram passes –alguns em impedimento-, fizeram um gol, que foi validado pelo árbitro, e assim se classificaram.

A atitude de Rous foi um dos motivos que o levaram a perder a reeleição, para o brasileiro João Havelange, sete meses depois.