As duas faces de Romelu Lukaku

O centroavante Romelu Lukaku foi o destaque na estreia da Bélgica na Copa do Mundo, na última segunda-feira. Fez 2 dos 3 gols da vitória da Bélgica sobre o Panamá.

Na véspera, ele havia publicado um longo texto no Player’s Tribune sobre sua trajetória no futebol.

O Player’s Tribune é um site que se tornou uma espécie de santuário para declarações de astros do esporte. Não publica quase nada além disso, em texto e em vídeo.

O texto de Lukaku, natural de Antuérpia, é daquelas histórias que todo jogador tem orgulho de contar, de como enfrentou a pobreza, de como se superou e venceu.

Conta quando sua família quebrou e teve de racionar comida e energia elétrica, porque seu pai, um ex-jogador profissional, havia ficado desempregado. Venderam o carro, cortaram a TV a cabo e até ficavam no escuro algumas noites. Aos seis anos, Lukaku decidiu jogar cada partida a partir dali como uma final. Foi se destacando por todos os times -chegou a fazer 76 gols em 34 jogos aos 12 anos, até que aos 25 anos é titular do Manchester United e maior artilheiro da história da seleção da Bélgica, com 38 gols.

Hoje, ele e seus parentes têm uma vida mais do que confortável.

São daquelas histórias que derretem o coração das pessoas que não sabem como elas são frequentes – talvez por se esquecerem de como a miséria é comum na humanidade em geral e entre os aspirantes a astros de futebol em particular. Não é preciso cavar muito no passado do Brasil para se lembrar de grandes jogadores que passaram fome, quando não tiveram que trabalhar, ainda crianças, como bóias-frias, coveiros, carvoeiros…

Mas, ok, a história é bem legal mesmo.

No dia seguinte à publicação, veio o jogo. Lukaku fez dois gols e parecia a confirmação do que havia escrito.

Só que não.

Logo depois da partida, o meia Hazard, capitão belga, que certamente soube do texto do colega, revelou que no intervalo cobrou duramente seu centroavante.

A jornais ingleses, Hazard revelou que disse a Lukaku no vestiário que ele estava se escondendo do jogo, que sua atitude estava deixando a Bélgica com um jogador a menos.

No segundo tempo, de fato, a atuação do centroavante foi completamente diferente.

“Quando ele se envolveu no jogo, como por mágica, ele marcou dois gols. Eu espero que ele tenha entendido”, disse Hazard.

O futebol, para quem está fora, é um história de heróis e vilões. Quando se olha para dentro, os papéis se misturam.