França envia 50 jogadores para a Copa

A França vai estrear daqui a pouco contra a Austrália.

Mas a maior parte dos jogadores franceses da Copa nem vai estar no estádio.

Na Rússia, há 50 convocados nascidos em solo francês. Desses, apenas 21 vão jogar pelos “Bleus”. Os demais 29 estão espalhados em cinco seleções: Marrocos, Tunísia, Senegal, Portugal e até Argentina. No total da Copa, são 82 “estrangeiros”, em 22 seleções.

Um exemplo é Mehdi Benatia, 31. O zagueiro da Juventus que se envolveu naquele polêmico lance do pênalti para o Real Madrid nas quartas-de-final da última Liga dos Campeões, nasceu e cresceu em Courcoronnes, a 35 km de Paris. Benatia estreou nesta sexta, um dia antes da França, como líbero e capitão do Marrocos. Astro da equipe africana, teve liberdade para atacar, quase marcou, mas ao fim, sua equipe perdeu, com um gol contra do companheiro Bouhaddouz, um local.

Há mais de 20 anos, a França se tornou um excepcional centro de formação de talentos. Uniram-se um trabalho dos clubes e em especial da Federação Francesa e a situação cosmopolita do país, que atrai imigrantes do mundo inteiro, em especial de suas ex-colônias na África, e de Portugal, fonte tradicional de mão-de-obra.

Os franceses que vão à Copa por outras seleções são filhos ou netos de imigrantes. Têm variadas idades (27 anos e 2 meses de média) e estão distribuídos por quase todo o país. Cerca da metade nasceu em Paris, Lyon e Marselha ou perto, mas há também casos opostos. O marroquino Boutaib e o tunisiano Benalouane, com uma diferença de idade de 26 dias, são naturais de numa pequena cidade de 16 mil habitantes a mais de 100 km de qualquer outra de tamanho grande, no sudeste do França.

Paris, que tem uma importância para o próprio país incomparável com qualquer metrópole brasileira, possui uma cultura de futebol de rua como poucas cidades do mundo. Na periferia e na região metropolitana, há centenas de quadras públicas onde se disputam amistosos e campeonatos. Ali, vencer não é o bastante. Jogado em comunidades de forte influência da cultura urbana dos EUA, onde o rap é o ritmo dominante, o futebol se inspira no estilo do basquete americano, que une habilidade, força e exibicionismo.

Olheiros detectam esses garotos às vezes na pré-adolescência. Grande parte vai treinar em times da região. Quando viram profissionais, espalham-se pelo mundo e por várias seleções, mas sempre que podem disputam uma pelada ali. Mahrez, que joga no Leicester, cresceu ao sul da capital e hoje atua pela seleção da Argélia, que está fora do Mundial, é um exemplo.

Enquanto isso, no Brasil, acontece quase o contrário. Os jogos em campos, ruas e quadras estão diminuindo, e a produção de talentos já não é a mesma de décadas atrás. Em vez de 29, há apenas 5 brasileiros na Copa fora da seleção de Tite.