Se for campeã, seleção deve boicotar Temer?
Se for campeã mundial, a seleção brasileira terá mais uma decisão pela frente: aceitar ou recusar o tradicional convite presidencial para os campeões mundiais. Nada indica que o assunto esteja sendo discutido, mas não é uma questão menor.
A visita ao Palácio do Planalto tem dois aspectos. Por um lado, é -ou deveria ser- uma honra. O presidente representa todos os brasileiros. Por outro, é uma obrigação. O presidente é a pessoa mais poderosa do país. Dele se espera comportamento impecável e dele se teme o poder.
Por tudo isso, nunca os jogadores cogitaram recusar o convite. Juscelino Kubitschek (1958), João Goulart (1962), Emílio Médici (1970), Itamar Franco (1994) e Fernando Henrique Cardoso (2002) receberam os campeões mundiais no dia em que a seleção pousou com a taça –alguns foram visitados também antes da viagem.
Desta vez, é diferente. O fato de Temer não ter sido eleito não pega tanto. Afinal, Goulart e Itamar também eram vices – assumiram após as saídas de Jânio Quadros e Fernando Collor- e nem por isso foram esnobados. E Médici era general, escolhido por seus pares. Ter conspirado para derrubar a presidente Dilma Rousseff não pegou bem, mas esse ainda não é o ponto.
A questão é o que Temer se tornou. A rejeição ao seu governo é a maior já medida no Brasil (82% contra 3% de aprovação, pelo último Datafolha). Desde que foi flagrado em conversa com Joesley Batista, sua capacidade de governar desmoronou. Está sendo investigado por corrupção. E sua gestão da greve dos caminhoneiros destruiu o que tinha obtido na economia.
Assim, Temer virou um zumbi político, faminto por um pouco de popularidade. Quem pode foge dele -incluindo os colegas do MDB. Muitos analistas já disseram que Temer só não cai porque não há quem pôr em seu lugar. E porque as eleições estão chegando.
Para complicar, o mundo está mudando. Nos EUA, onde a reverência à imagem do presidente sempre foi enorme, a vontade de ir à Casa Branca caiu depois que Donald Trump passou a morar lá.
A ida de campeões à Casa Branca remonta a 1865. Nos anos 1980, os convites se tornaram regulares para os campeões da NFL e mais tarde para os da NBA. Mas, há um ano, após Trump mostrar atitude dúbia quanto a questões de racismo, a postura mudou. Os dois últimos campeões da NBA e o campeão da NFL foram desconvidados porque ameaçavam não ir. E os jogadores brasileiros certamente acompanharam esses episódios.
Mesmo a CBF, que sempre buscou estar de bem com o governo, pode calcular prós e contras a visita. Se o coronel Nunes recusasse -ainda que ninguém achasse que foi mais um engano dele, haveria pouco dano, pois Rogério Caboclo vai assumir em 2019, sob um novo ocupante do Planalto. Pela tradição, porém, o mais provável é que a cúpula da CBF é que lave as mãos.
Assim, os jogadores precisarão tomar a decisão sozinhos –ou com a comissão técnica. E, na falta de um Lebron James verde-e-amarelo, ninguém deverá falar nada até que tenham colocado a mão na taça.
Dada a magnitude da rejeição a Temer, uma banana para o presidente pode ser recebida pelos brasileiros quase como um bicampeonato em uma Copa só.