No Mundial da Rússia, países estão em alta novamente

Vamos combinar: Copa do Mundo tem um gosto de infância: todo mundo torcendo junto, álbum de figurinhas e… países. E não é que os países, que andavam meio desprezados, como aquele ap no Guarujá que ninguém mais quer ir, estão em alta novamente?

Na Copa da Alemanha, em 2006, se estava no auge da globalização. O tal do mundo plano. O euro havia sido introduzido havia poucos anos. Pessoas e capitais fluíam como nunca.

Em 2008, no futebol, a onda era o Barcelona de Guardiola. Muitos técnicos do exterior esculhambavam a Copa e alguns jornalistas do Brasil até pediam que ela fosse extinta, substituída por um Mundial de Clubes.

Mas aí veio a crise do subprime nos EUA, a integração dos mercados fez todo mundo despencar, menos o país da marolinha –a conta veio mais tarde. A Terra perdeu o rumo.

E desde a última Copa, a globalização, que era para ser um Fim-da-História 2.0, enroscou feio. Brexit, Crise da Catalunha, Trump, Kim, os mísseis de Putin, Guerra Civil na Síria, atentados do Estado Islâmico na Europa, crise nuclear do Pacífico Oriental, acordo-desacordo EUA-Cuba, Crise do Nafta… (e nós aqui, sempre com crises caseirinhas).

Até as empresas da nova tecnologia começaram a dar cabeçada: Facebook, Uber, AirBnB, Tesla…

O medo se instalou, e muita gente quis fechar a sua casinha. Criaram barreiras, muros até. O tal plano miou.

E agora todo mundo parece mais ligado em países. O nacionalismo aumentou.

Mas obviamente não é como foi antes –nunca é.

Quando eu era garoto, o álbum de figurinha era mais monótono. Nas seleções européias, só tinha brancos; nas latinas, morenos meio gordinhos; nas árabes, bigodudos; nas africanas sub-Saara, negros (a única que poderia ser misturada, estava banida por apartheid); e no Leste asiático todos tinham cabelo escovinha. Só o Brasil era misturado.

O mundo mudou –o Brasil, também aqui, bem menos-, e hoje França tem uma seleção quase negra, a Suíça tem poucos loiros, e o troca-troca de países é enorme. Nesta Copa, 22 seleções têm convocados nascidos em outros países. O único grupo “puro RG” é o F, de Alemanha, Coréia do Sul, México e Suécia.

No mundo dos países, a mobilidade das pessoas diminui (a do dinheiro, nem pensar, imagine), mas pelo menos a Copa fica mais legal.

Daqui a 32 dias -ou antes, se o Brasil perder ou os caminhoneiros pararem de novo- o nosso mundo volta ao normal.