Na primeira Copa após operação do FBI, a moda na Fifa é… dinheiro
Mal faz três anos que agentes do FBI, com respaldo da Polícia Judiciaria suíça, entraram no hotel Baur au Lac, em Zurique, e fizeram a maior prisão da história do futebol mundial. Naquele 27 de maio de 2015, sete dirigentes foram presos, incluindo José Maria Marin, que havia deixado a Presidência da CBF 41 dias antes.
O presidente da Fifa, Joseph Blatter, um baixote sem pescoço que lembra os duendes do banco Gringotts, da saga de Harry Potter, não foi preso, mas ficou enfraquecido e por fim afastado do cargo. Seu principal rival e ex-aliado, o então “boss” da Uefa Michel Platini, com seus cabelos despenteados e ternos amarrotados, caiu no mesmo dia, cerca de quatro meses depois da ação do FBI. Ao todo, mais de 20 pessoas foram condenadas nos EUA e mais uma dezena foi afastada da Fifa.
Quem assumiria o poder seria o secretário-geral da Uefa, Gianni Infantino, suíço, apesar do nome italiano. Tinha 45 anos, entre 7 e 20 anos a menos na posse do que seus três antecessores, que revezaram o cetro desde 1961. Foi braço-direito de Platini e recebeu seu apoio até não precisar mais dele.
Com ternos impecáveis, perfil quase esguio e cabeça raspada, Infantino chegou prometendo o de sempre: modernidade, honestidade, democracia e transparência –além de quadruplicar os repasses para as federações nacionais. Por isso, enquanto no COI, que passava por crise bem menor, a ordem foi reduzir custos em obras olímpicas, na Fifa, o gigantismo não só foi mantido, como turbinado.
Mal assumiu, Infantino já anunciou que queria uma Copa com 48 clubes. O formato, que deve começar em 2026, na Copa da América do Norte, sobe o número de jogos de 64 para 80 (+25%). Logo estádios, sedes, voos, diárias, refeições subirão quase na mesma taxa. São mais
gastos e… mais receitas para distribuir.
Infantino não ficou só nisso. Propôs uma Liga Mundial de Nações e reformatou o Mundial de Clubes. Diz que um misterioso fundo liderado pelo banco japonês SoftBank pagaria US$ 25 bilhões por dez anos de contrato. Só isso quase triplicaria a receita da Fifa –de US$ 5,7 bilhões no atual quadriênio– que já é o triplo de quatro ciclos atrás.
Seu estilo centralizador e seu apetite por dinheiro está assustando até mesmo antigos aliados. Alguns relembram a origem da sua família, o Sul da Itália, lar de três máfias.
Na última reunião da Fifa, a resistência interna freou seus planos. Mas as cobranças de suas promessas políticas não param. E no ano que vem precisará disputar a reeleição. Se vencer, pode em tese, ficar indefinidamente. Se Infantino deixar o cargo com a mesma idade de Havelange, 83, vai ficar até 2054. Com os mesmos métodos de hoje.
Por isso, nesta Copa, aproveite o futebol. A Fifa não mudou de estilo, só de estilista.